Por quem os sinos silenciam?
Minha mãe avaliava a plenitude e a qualidade da vida de uma pessoa pela quantidade de gente no seu velório e sepultamento. Nada poderia ser, para ela, mais triste do que constatar o enterro solitário de alguém. Por maior que tivesse sido a vida vivida por aquele falecido, sua grandeza poderia ser perdida se o morto não recebesse as derradeiras homenagens das amizades que cultivara durante sua existência. Os neurocientistas vêm demonstrando que mamãe estava certa. Eles descobriram que a alma humana funciona com um viés psicológico chamado “efeito pico-fim”, segundo o qual avaliamos nossa experiência emocional a partir de dois momentos: o ponto máximo (de dor ou de tristeza, alegria etc.) e o final daquela experiência. Nossa mente soma estes dois momentos e divide o total por dois: o resultado é nossa lembrança emocional daquilo que foi vivido. A pandemia vem nos impossibilitando de despedir, de comparecer ao velório e sepultamento de pessoas amigas e queridas, impedindo-nos de cri...