Postagens

Mostrando postagens de setembro, 2020

QUINO

Imagem
  Quino morreu. Inspirou a tantos, inclusive a mim, na percepção crítica do ser humano por meio do traço de humor. Famoso pela Mafalda, gosto ainda mais de seus cartuns. Quase nada sei sobre sua vida pessoal, apenas que era tímido e não teve filhos. Mas seus cartuns o transformaram em parte da minha própria vida, como se fôssemos íntimos. Enquanto lembrar deles, Quino estará por aqui.

Devidas dúvidas

Imagem
  Todas as manhãs busco respostas  do porquê continuar vivo. No jardim, a jovem pitangueira,  que anda hiperativa em flores,  haverá de amadurecer em frutos?  Aquela plantinha delicada,  trazida no voo de um passarinho,  resiliente como uma feminista,  vencerá a barreira de cascalhos brancos?  A erva daninha, vicejando à sombra da palmeirinha,  sobreviverá a outro eventual jardineiro  que estaria interessado  apenas na eugenia das espécies importadas?  Os gerânios florindo despudoradamente,  como se não estivéssemos numa pandemia,  continuarão viçosos no inverno?  As lagartas em amarelo e preto,  esculpindo o manacá a pequenas mastigadas,  irão se encasular à espera da metamorfose  para eclodirem suas asas translúcidas em liberdade?  A diversidade de musgos, hepáticas, azaleias e orquídeas inodoras  permanecerá compartilhando democraticamente  o zum-zum da conversa das abelhas  inebriadas pelo perfume de mel do ipê mirim?  O pau brasil, com seus espinhos de espetadas dolorosas,  mesm

Hay kay

Imagem
Usar máscaras, Ou não, desmascara as Boas e más caras

Sexualidade na quarentena

Imagem
Para Caetano, pelo seu excelente Narciso em férias.  

O dilema das redes

Imagem
Depois de assistir “O dilema das redes” na Netflix (ver aqui: https://olhardigital.com.br/noticia/-o-dilema-das-redes-escancara-aspecto-manipulador-das-redes-sociais/106869 ) decidi encerrar minha participação no Instagram, Facebook e Twitter. Continuarei fazendo meus cartuns aqui no blog. LOR

Lógica

Imagem
 

Delusão

Imagem
  Conheci M. muitos anos depois que seu pai havia se matado e convivemos por décadas em razão de algum parentesco. Seu jeito de ser e suas excentricidades foram aumentando à medida que envelhecia, até que a pandemia fez aflorar por completo uma personalidade que estivera semioculta, ainda que possa parecer que deveria ter sido óbvia. Ao longo da vida, M. colecionara empregos, mulheres e mudanças de endereço, trocando de uma situação para outra após decisões abruptas motivadas por um impulso decisivo e irrevogável, geralmente originado na suspeita de que havia algo de muito errado com aquele trabalho, aquela mulher ou aquele apartamento. Pegava-nos de surpresa e jamais compreendíamos bem as causas de suas guinadas na vida. Apesar disso, M. não me parecia tão fora assim dos padrões, porque num momento a crise era o emprego, noutro o casamento ou, mais adiante, o endereço. E íamos levando seu modo de ser, o que incluía às vezes opiniões preconceituosas revestidas de condescendência contra

Sétimo dia

Imagem
 

Assalto às mãos desarmadas

Imagem
  Suas mãos hábeis e delicadas trazem à vida a inerte e inválida bruta pedra, extraindo dela ocultos desejos futuros, esculpindo escadas, espadas de aço e silício, interfaces eletrônicas, esculturas monumentais e o cimento dos edifícios que repartem os céus em geometrias.   Suas mãos, outrora livres, foram capturadas e postas sob a força, numa história engendrada pelo acaso, feita de guerras sórdidas e ímpetos passados, que reservou para alguns a Terra e para outros o suor e o nada.   Suas mãos escravizadas moeram pedras à força da chibata, sob o terror dos capitães do mato, para receberem em troca o miserável mingau por elas mesmas preparado, ao fim de cada dia de infindável trabalho, para restarem calejadas e adormecidas num cansaço de dor e quase morte.   Suas mãos, depois de abolidos os grilhões, pareciam livres, mas perderam o direito às enxadas, facões, arados e alicates, e à matéria prima de todo seu engenho e arte, que