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Mostrando postagens de fevereiro, 2022

Pedir paz não é ingenuidade

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  Enquanto pessoas amigas se debatem entre apoiar ou condenar a invasão russa na Ucrânia, encontro consolo na opinião de pensadores que admiro, como Apolo Lisboa ,  Yuval Noah Harari , que dizem que a opção correta é a defesa da paz e a condenação incondicional da guerra, seja ela iniciada por russos ou norte-americanos. Apolo hoje defende o pacifismo, ainda que tenha pertencido à guerrilha urbana e lutado contra a ditadura militar. Concordamos que as armas podem até ganhar uma revolução, mas não são capazes de implantar o socialismo sem a mudança ideológica da maioria da sociedade. As pessoas precisam estar convencidas da necessidade de uma nova ordem social e econômica que substitua o capitalismo, para que ela seja permanente e sobreviva sem a necessidade de ditaduras populares. Por isso somos socialistas democráticos e pacifistas. Harari defende, em seu mais recente artigo , que a defesa da paz não é uma perspectiva ingênua, mas a única alternativa capaz de salvar a sociedade humana

A arte e a guerra

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  Nestes últimos dias, enquanto o governo nacional-capitalista russo massacra a Ucrânia e o mundo dá um passo atrás na sua delicada construção da paz verdadeira, aquela que só é possível sem desigualdades, torna-se ainda mais difícil respirar porque não conseguimos esquecer as tragédias das chuvas nem os mortos pela pandemia, apesar de estarmos supostamente em pleno Carnaval. Neste sentimento de retrocesso, restou-me algum consolo na grande arte, aquela que revela nossas humanidades. Pois foram Almodóvar, Gonzaguinha e Genin que vieram em meu socorro, nesta trincheira emocional em que enfrento Putin e seus asseclas de gravatas enfeitadas com ouro e rifles espalhados pelo mundo. O filme “ Mães paralelas ” parece-me feito por um homem que procura ver pelos olhos das mulheres as suas questões mais delicadas e profundas. Almodóvar faz um relato impecável e emocionante sobre duas mães no mundo contemporâneo e suas ligações com a história das mulheres na Espanha massacrada pelos fascistas n

O mendigo e a Ucrânia

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  O ex-jardineiro tocou o interfone pela manhã, alguns minutos depois que eu soube da invasão da Ucrânia pela Rússia. Com a voz embargada pelo álcool, pediu-me dez reais para comprar um botijão de gás, solicitação cada vez mais frequente nos últimos meses em que a crise econômica brasileira foi agravada pela pandemia de COVID. José é um homem negro de meia idade, que aumentou a bebida na mesma medida em que viu diminuir sua oportunidade de trabalho, e que aparece no meu portão dia sim, dia não, com a mesma frase: - Oh, meu amigo... Atender a porta e encontrar o José é sempre um momento de conflito interior e tristeza para mim, pois não consigo evitar de me colocar na posição dele, encostado nas grades à espera da resposta, - chego a me ver pelos olhos dele - e fico imaginando como deve ser a vida de alguém na sua idade, que precisa andar pelas ruas de porta em porta pedindo esmolas. Repenso que, certamente, ele não escolheu sua situação social precária, tanto quanto eu não escolhi a mi

Homens Furiosos - George Monbiot

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O texto abaixo inspirou-me a ilustração acima. Gostaria de assinar esta análise lúcida (mais uma!!!) do George Monbiot e peço a ele licença para reproduzir, por causa da sua relevância política, baseado numa jurisprudência poética, segundo a qual (no filme O Carteiro e o Poeta - uma ficção sobre Neruda), a obra de arte não pertence ao autor, mas a quem dela precisa. Destaco uma sacada de humor que ele faz no meio do texto, que eu desejaria de ter colocado num post anterior  VER AQUI Quem gostar desta análise, sugiro assinar o Monbiot semanalmente. Lor Homens Furiosos Não há solidariedade nos protestos do "cidadão soberano" que agora decolam ao redor do mundo, apenas a raiva incoerente. Por George Monbiot, publicado no Guardian 16 de fevereiro de 2022 Quando um grupo em roupas pretas chamado Alpha Men Assemble começou a praticar manobras paramilitares em um parque em Staffordshire no início deste ano, parecia bastante ameaçador. Estes homens, fomos avisados, estavam prestes a

Galileu Galinhei e os negacionistas

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  Ontem, numa reunião virtual  ( vade retro COVID! ) entre amigos, as ótimas apresentações do livro de Mario Livio “Galileu e os negadores da ciência” (feita pelo Ivo Busko) e da peça de Brecht “Galileu Galilei” (feita pelo Paulo Camargos) despertaram em mim os personagens Gu-Ê-Krig (um deus Kadiweu da mitologia Guiacuru) e seu companheiro Galileu Galinhei (um frango que se tornou discípulo do filósofo Antônio Cícero), acima reaparecidos depois de anos ausentes. Em 2015, num surto de criatividade desenhei centenas de tiras sobre estes personagens. É a mais avançada criação em quadrinhos que conheço, tão avançada que ninguém entendeu. Foi minha tese em latim, pois consegui ser incompreendido por todo mundo. Quem quiser se arriscar a entender, VER AQUI  algumas tiras. A propósito de escrever ciência em latim (ou na língua dos inquisidores atuais - sic Paulo Camargos - o inglês), tenho defendido a publicação de nossos conhecimentos científicos em português, contrariando o sistema de merit

Jabor - eu sabia que não ia mais te amar

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Incomodado com a adesão inicial de Arnaldo Jabor ao PSDB, que se converteria com o tempo no seu antipetismo visceral, escrevi esta crônica em 1994, publicada no Boletim da UFMG. Ele morreu ontem, deixando-nos ainda imersos no pântano bolsonarista que ele (involuntariamente?) ajudou a ser formado. Deixa-me saudades do tempo em que ele era um grande cineasta.

Há vacina contra a ilusão?

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  É fácil para uma pessoa que estudou biologia compreender como funcionam as vacinas e por que elas são a principal forma disponível de controle das doenças virais agudas, como a COVID. Mas, para muita gente, é difícil entender como o organismo reage quando é introduzido nele um vírus inativado ou um fragmento deste vírus, ou seja, uma vacina. Talvez, aceitar ou não a eficiência da vacina, para boa parte da população, dependa menos do entendimento biológico e mais da confiança que é depositada nas orientações das autoridades sanitárias, formadas por técnicos, médicos e cientistas, que fazem parte das estruturas do Estado. O Estado, controlado pela classe dominante ao longo da história, hoje administra a produção capitalista, garantindo a propriedade privada dos meios de produção e a manutenção da ordem social no contexto da desigualdade extrema em que precisa viver a população para os salários serem mantidos baixos e haver lucro. Entre as funções do Estado, está a formação de quad

A direita unida jamais SERIA vencida?

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  Para amigues Facundes Dizem que nós, da esquerda, somos incapazes de nos unir, apesar de abraçarmos uma ideologia coletivista, mas a união me parece intrinsicamente tão ou mais difícil num grupo de pessoas com uma ideologia individualista, mesmo que tenham um objetivo final em comum, que é a exploração da maioria. Se a direita fosse unida, não haveria a Segunda Guerra Mundial entre governos de vários tons de direita, democratas e republicanos compartilhariam melhor seus privilégios econômicos e ainda estaríamos sob a ordem unida da ditadura militar brasileira.  Se a direita fosse um bloco único, contando com a máquina do estado e as forças armadas, ainda estaríamos convivendo com reis e imperadores, tipo os Pedros de Orleans e Bragança e a escravidão. Achar que somos desunidos e que a direita é unida em torno do lucro e dos seus privilégios pode resultar de uma certa miopia social, que nos leva a achar que orientais, indígenas ou negros são “todos iguais”. Curiosamente, esta ideia p

A falsa seca e a sede insaciável de lucro

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Apolo Heringer Lisboa está sendo processado por denunciar os crimes cometidos  por muitos  governantes e empresários da mineração, do agronegócio e da indústria, que lucram escandalosamente com a exploração da água e causam escassez e sofrimento para o restante da população, que é quem realmente paga pelo consumo, além de ser a principal vítima dos desastres ambientais.  Apolo é médico, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais e, entre outras obras importantes, é o criador do impressionante Projeto Manuelzão, um empreendimento de transformação da MENTALIDADE na bacia do rio das Velhas, tendo como estratégia impulsionadora a mobilização pela volta do peixe como indicadora da recuperação da água e da vida. O Projeto Manuelzão surgiu de uma profunda reflexão política que Apolo realizou, depois de perceber que uma ação realmente transformadora da realidade precisaria ir além da atuação parlamentar e partidária. Depois de vários anos, o Manuelzão encontrou