Ano passado eu não morri...
Presentemente, posso me considerar um sujeito de sorte, porque apesar de não ser muito moço, ainda me sinto meio salvo e quase forte.
Mas, definitivamente, Deus não é brasileiro, nem anda ao meu lado.
Deus pai, residente ou naturalizado, teria deixado as escavadeiras prepararem as covas para o terrível plantio das milhares de mortes antecipadas pelo vírus, aquele mesmo que Ele, brasileiro fosse, poderia ter evitado chegar às nossas praias?
Filho destas terras, teria permitido que seus irmãos ignorantes se contaminassem (pai, perdoai os que não sabem o que fazem, lembra?) nas raves promovidas por ídolos e populistas que tratam as recomendações científicas de distanciamento social com a mesma chuteira que usam em campo ou nas mulheres?
Nascido, quem sabe no Espírito Santo, não teria iluminado a ignorância sombria do sociopata que nos desgoverna com espuma gosmenta de prazer no canto da boca, salivando seu cinismo doentio e estúpido, enquanto mente sobre vacinas e facilita negócios bilionários com laboratórios estrangeiros?
Não, acho que Ele largou mão de nós e foi se esbaldar na festa do Neymar.
Por isso, tenho sangrado demais.
Tenho chorado prá cachorro, dizia Belchior, revivido por Emicida no seu AmarElo , a obra de arte que evitou que muitos mais outros de nós morrêssemos por falta de ar no ano que está quase passado.
Cantei com ele arrepiado: ano passado eu morri, mas este ano eu não morro!
Assim que o show terminou no vídeo, os créditos subindo na tela, lembrei-me de minha família distante, das amigas e amigos doentes, coloquei a máscara para atender o portão e percebi que no passado não morri, mas este ano...
Lor
29/12/20
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