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Mostrando postagens de julho, 2022

Equivocado

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  Francisco, meu neto, desenvolveu rapidamente um vocabulário amplo e, certo dia, em torno dos seus 5 anos, estava com uma expressão de tristeza, o que motivou Thalma a perguntar: - Está triste, Francisco? - Não, vó... – pensou um pouco e completou -... estou equivocado. - E você sabe o que quer dizer equivocado? - Sei... É quando estamos enganados. É exatamente este sentimento que vem dominando minha alma nos últimos tempos, à medida que tenho aprendido certas coisas, sobre as quais andei equivocado, mas, graças a algumas autoras feministas, estou tendo a sorte de mudar de ideias. Neste rearranjo das prateleiras mentais construídas no último meio século, três das minhas referências de vida foram desempoeiradas: o marxismo como eu o imaginava, a evolução darwiniana como aprendi e a causa ambientalista como vinha defendendo. Começando pelo marxismo, Sílvia Federici mostrou-me que Marx praticamente desconsiderou a exploração feminina, a escravidão e o colonialismo na sua análise da a

Dar o primeiro tiro – legítima defesa antecipada ou excludente de ilicitude?

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  Algumas pessoas de esquerda admitem que o regime socialista na Rússia foi substituído pelo capitalismo (ia dizendo capitalismo corrupto, mas me perguntei se há algum capitalismo que não seja corruptor de tudo, da política aos recifes de coral), mas, apesar disso, elas acolhem as justificativas de Putin para iniciar a invasão da Ucrânia. Ao contrário, outras pessoas de esquerda temos considerado a invasão russa um crime internacional , pois ela não é moralmente defensável, ou seja, não é algo que visa o bem (ou pelo menos um mal menor) para a humanidade. Uma população que luta em defesa de seu território invadido está exercendo o direito moralmente justificado da legítima defesa. Ao contrário, iniciar uma guerra, seria moralmente correto? Se não o for, os argumentos econômicos, geopolíticos ou históricos para dar o primeiro tiro não transformam a invasão em algo justo. Entre os motivos que me parecem moralmente defensáveis para se iniciar uma guerra (ou revolução) estão as condições d

Pesadelo

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  Homens estúpidos trespassaram suas armas no portão da frente, Agitando bandeiras nacionais e ódios seculares. Seus urros e atos covardes espalharam medo pelas paredes, Que pareciam frágeis demais para abafar as batidas do meu coração. Para não morrer novamente, Marielle estava na sala e implorava por ajuda com uma criança no colo, tentamos fugir pela janela lateral, mas não conseguimos destravar a ferrugem da escravidão. Também não podíamos ir pelos fundos, pois o fogo iniciado pelos homens se espalhara, consumindo a mata cerrada que resistira atlântica no quintal de minha infância, deixando vultos carbonizados de pessoas, aldeias e câmeras fotográficas. Procuramos ajuda pela internet, o celular estava descarregado. Gritamos por socorro, mas nossa voz não era ouvida pelos moradores de rua que formavam uma fila para votar num caixa eletrônico. Descobri que minha vida se esgotara, minhas mãos se tornaram idosas, meus joelhos fracos. Eu não poderia ajudar Marielle com a criança, e nem a