Devidas dúvidas
Todas as manhãs busco respostas
do porquê continuar vivo.
No jardim, a jovem pitangueira,
que anda hiperativa em flores,
haverá de amadurecer em frutos?
Aquela plantinha delicada,
trazida no voo de um passarinho,
resiliente como uma feminista,
vencerá a barreira de cascalhos brancos?
A erva daninha, vicejando à sombra da palmeirinha,
sobreviverá a outro eventual jardineiro
que estaria interessado
apenas na eugenia das espécies importadas?
Os gerânios florindo despudoradamente,
como se não estivéssemos numa pandemia,
continuarão viçosos no inverno?
As lagartas em amarelo e preto,
esculpindo o manacá a pequenas mastigadas,
irão se encasular à espera da metamorfose
para eclodirem suas asas translúcidas em liberdade?
A diversidade de musgos, hepáticas, azaleias e orquídeas inodoras
permanecerá compartilhando democraticamente
o zum-zum da conversa das abelhas
inebriadas pelo perfume de mel do ipê mirim?
O pau brasil, com seus espinhos de espetadas dolorosas,
mesmo com as escoras que tento ajeitar,
continuará crescendo torto
por causa dos ventos enfumaçados
trazidos pelas queimadas ao norte?
Ah, tanto preciso saber, até amanhã.
Desculpe o comentário que terminou inesperadamente. Depois continuamos bom dia. Boa sorte. Até breve
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