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Mostrando postagens de outubro, 2021

Câmeras fechadas

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  Aroeira e eu conversamos hoje sobre charges e cartuns com um grupo de estudantes (14 a 15 anos) por meio de videoconferência.  Não vou identificar quem são, pois meus sentimentos não são dirigidos apenas a este grupo, e nem estas pessoas são culpadas por uma pandemia que nos isolou há dois anos, em condições agravadas por uma gestão criminosa da saúde pública, que prolongou o sofrimento coletivo e causou a morte de centenas de milhares de pessoas por causa de sua ignorância e desprezo pela vida humana.  Poucas das pessoas presentes abriram suas câmeras durante as duas horas do encontro e foram as mesmas que toparam fazer perguntas e comentários. Senti enorme tristeza, angústia por não ver os rostos para quem Aroeira e eu tentávamos passar um pouco dos desafios e técnicas relacionadas com a nossa arte de fazer cartuns, charges, caricaturas e quadrinhos. Sei que é muito estressante para a maioria das pessoas, seres humanos que evoluíram para o contato social intenso, aguentarem tais c

Bye buy

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  Depois de 48 horas com o celular desligado recuperei a sensibilidade nas pontas dos dedos, consegui enxergar as casas no outro lado da rua e conversar com minha mulher sem a sensação permanente e insidiosa de que algo importante estava acontecendo e eu estava por fora. Antes passara por momentos de muita angústia. De repente, minha geladeira se tornara um objeto real, as paredes pareciam sólidas e o chão estava frio sob meus pés. As cores do dia feriam meus olhos, apesar da branquitude opaca de um domingo nublado. Passei a sentir de forma estridente os barulhos de carros e latidos de cães se misturando com o chiado das cigarras numa cacofonia que ocupava progressivamente todo o espaço sonoro. Assustei-me com o canto agressivo de um bem te vi que pousou em meu quintal, fechando a janela antes que meu lobo frontal perguntasse que estupidez era aquela de sentir medo do pequeno pássaro. Havia desconforto em minha pele, suarenta e pegajosa, com calafrios ocasionais entremeando ondas de ca

O fundo dos investimentos

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Obrigado Romeu pela citação.  

O capitalismo e a inoCiência

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  O texto que postei ontem, MAMUTES NA SALA  , sobre a relação entre a crise climática e o capitalismo, recebeu alguns comentários de dois amigos cientistas, que valem a pena serem lidos. Disse o Romeu Guimarães: Novamente, problemas complexos, muitas janelas, nenhuma suficiente, todas necessárias... Uma das perplexidades que me deixa ´encucado´, no momento, é a miopia que acabei de perceber no comportamento de toda cultura ocidental (não falo das outras, porque conheço nada delas). Desde Thales de Mileto  (-624 a -548) até o século 20 (tipo 2500 anos transcorridos), ninguém percebeu o ´ ambiente ´. Isso significa uma decepção: eu pensava que os grandes pensadores vasculhavam metodicamente todos aspectos dos temas que abordavam, mas não, fixavam somente os aspectos que lhes incomodavam, que lhes apareciam como ´questões´ valiosas, e o ambiente nunca lhes incomodou; era tomado como fonte infinita de recursos e lixeira infinita para seus resíduos; ´taken for granted´, inteiramente neg

Mamutes na sala

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  Depois de ler os dois artigos interessantes que o amigo Ramon Cosenza me enviou nesta última semana, sobre as relações entre a crise climática e o capitalismo, fiquei pensando que a melhor ilustração para o texto do Jeremy Lent não seria o capitalismo como um elefante na sala das discussões (sobre as terríveis consequências do aquecimento global), mas sim um mamute. Até porque os mamutes foram extintos no final da última Era Glacial... por aumento da temperatura do planeta! GEORGE MONBIOT  e JEREMY LENT  nos mostram que a crise climática é parte inseparável do capitalismo e não há como acabar com o aquecimento global sem acabar com o modo de produção capitalista. Confesso que meu sentimento atual é de que já perdemos o momento de revertermos as alterações climáticas. Deve ser coisa da minha perspectiva solitária de um cara com 72 anos, que passou os últimos 45 anos falando sobre isso, meio como o cara do cartum abaixo. No entanto, se a esperança e o medo são paralisantes e agir é a ú

600 MIL + 1. NANI

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  Nani publicou este cartum em 1974 e não sabia que enfrentaria a morte várias vezes depois, ganhando dela, literalmente, de lavada, sobrevivendo a uma hepatite grave e três transplantes de fígado. Foi preciso a ajuda dos bolsonaristas para a morte nos levar o Nani, ontem, de COVID. Fica a saudade do mais mineiro dos cartunistas, o contador de causos mais engraçado que conheci, o amigo leal e delicado, como lembramos Nilson, Duke e eu, seus irmãos de cartunismo. Fica a revolta pela sua morte precoce (um menino de 70 anos!) causada pela política genocida de Bolsonaro, que não seria possível sem o apoio de médicos bolsonaristas e seus conselhos de medicina (com minúscula mesmo). Fica a promessa, Nani, que cobraremos sempre, e de todas as formas possíveis, cada uma das mortes que poderiam ter sido evitadas nesta pandemia. Inclusive a sua, querido amigo. Não descansaremos em paz.

Maravilhas da natureza

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O Sol é uma estrela de tamanho médio,  onde caberia um milhão de Terras. Sua temperatura é de 11.000 graus na superfície  e 325 milhões de graus  no seu interior. O Sol converte  quatro milhões de toneladas  de matéria  em energia,  por segundo. Intuindo que, assim, o Sol vai acabar,  a cigarra canta aflita, em busca de uma parceira  para aproveitarem  urgentemente a vida. (*) O cartum é de 1981 - obsessão pessoal.