Temos escolha?

 


Meu último post gerou dezenas de comentários com ideias semelhantes, o que aliviou minha solidão nestes tempos tensos em que sobrevivemos. Em especial, agradeço o texto do amigo e colega Carlos Starling. 

Do outro lado do silêncio reflexivo de outras pessoas, duas dúvidas principais surgiram: qual meu conceito de democracia e qual o grau de escolha do terrorista bolsonarista que se matou no atentado em Brasília.

Democracia, para mim, é a igualdade de direitos e deveres. Democracia como uma finalidade em si, e não apenas um meio de se chegar ao poder. Utopia, sim, mas é por elas que nos movemos. 

A partir desta definição, básica, fundamental, ponto de partida, podemos conversar sobre quais são os direitos e os deveres e como podemos chegar lá. E haverá diversos caminhos, todos legítimos, embora alguns possam se revelar mais corretos, mais justos ou apenas mais possíveis.

Antes de falar sobre o grau de responsabilidade do terrorista, reafirmo que espero que todas as pessoas que ameaçaram e continuam ameaçando a democracia, mesmo esta imperfeita em que vivemos, devem ser contidas, julgadas e punidas de acordo com as leis.

Então, voltando ao terrorista, tentar compreender as causas de seu ato extremo não é justificá-lo, mas procurar descobrir como podemos evitar que se repita.  

Assim, pergunto: o terrorista já era terrorista quando bebê?

A menos que acreditemos nas teorias eugenistas de limpeza étnica, que atribuem naturezas más e hereditárias a determinados povos ou pessoas, precisamos admitir que, entre o seu nascimento e o momento em que detonou o explosivo sob sua cabeça, houve aprendizados e transformações vividas pelo terrorista numa dada sociedade, num tempo histórico e em determinadas circunstâncias.

O “brinquedo” do bebê na ilustração acima foi criado pelo governo canadense para orientar a compreensão dos refugiados que chegam ao Canadá e vale a pena dar uma olhada nele com cuidado (clique na figura para ela abrir com maior nitidez).

Nas características ali reunidas, quantas posso escolher? Nacionalidade, idioma, cor da pele, sexo, sexualidade, tamanho do corpo, classe social...?

Provavelmente nenhuma delas.

Quando acrescento àquela roda da fortuna os acasos inevitáveis e os comportamentos subconscientes que regem a maior parte dos nossos atos, fico com a impressão de que minha capacidade de escolha se reduz a decidir para qual margem do rio eu olho enquanto a correnteza arrasta meu barco sem remos.

Por isso, lamento que a sociedade em que vivemos, capitalista, competitiva, desigual - e em quase tudo diferente da democracia que eu desejo, - esteja conduzindo muitas pessoas para o extremismo político desesperado que as sequestra em algoritmos perversos, que podem levá-las ao suicídio.

Individual e coletivo.

 

 

 


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