Cuidado com o que você laika
É impossível resumir em poucas palavras as mais de 400
páginas de fatos, narrativas e aprendizados que ele nos fornece para
compreender coisas como a eleição do Trump, mas bastaria a análise que Harari faz
do papel da inteligência artificial no presente e no futuro para tornar seu
livro indispensável à nossa compreensão básica do mundo em que estamos
sofrendo.
É com grande clareza que ele mostra o funcionamento dos
algoritmos nas redes sociais, que criam novas subjetividades coletivas que afetam
nossa vida real, podendo gerar transformações sociais e políticas que resultam
em sociedades polarizadas (como as de Trump e Bolsonaro) e até mesmo
genocídios, como em Myanmar (budistas contra os Rohingyas).
Vale a pena compreender o tal funcionamento dos algoritmos.
Para o modelo de negócio das redes sociais não importa o conteúdo (social,
político, cultural, etc.) da informação, mas se ela produz engajamento dos
leitores. Quanto maior o engajamento dos seguidores – visualizações, likes ou
compartilhamento – maior o lucro das redes sociais ao vender a nossa atenção
para a publicidade.
Estudos científicos mostraram que quanto mais ódio, raiva,
espanto ou indignação produz um post, maior o engajamento.
Então, imagine que você recebeu um post numa rede social. Se
ele provocar um destes sentimentos que ativam o nosso sistema emocional
profundo, você tende a clicar sua aprovação e eventualmente compartilhar com
amigos e familiares. Quando você reage ao post, o algoritmo entende que ele
produz engajamento e o recomenda para outras pessoas. Assim, progressivamente,
os posts que produzem mais engajamento vão ocupando o espaço digital e criando
bolhas de consumidores com afinidade em torno daquela reação.
Por exemplo, pessoas mais à direita do espectro político vão
se engajar em posts mais coerentes com sua visão de mundo e, ao contrário,
pessoas de esquerda seguirão no sentido oposto. Posts com menor repercussão
emocional vão desaparecendo na nuvem. A figura abaixo ilustra como os posts
mais agressivos criam a polarização progressiva da sociedade.
Portanto, entre tantas coisas a serem feitas para protegermos a sociedade da ganância da elite mais rica, precisamos regulamentar as redes sociais como fazemos com outras coisas perigosas e que causam dependência e grandes problemas, como álcool, cigarro e jogos de azar.
É isto é apenas uma das vacinas possíveis para tentarmos
controlar a pandemia de ideias de extrema direita que podem acelerar a
destruição da humanidade.
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