Estou me tornando um zoom bi?
À minha tristeza pela tragédia em curso se soma outra ao constatar que nossos contatos virtuais não são satisfatórios o bastante para afastar a saudade das pessoas queridas. Apesar de mensagens, áudios, vídeos, fotos e meetings, os afetos das amigas e amigos vão descolorindo, adquirindo o tom pastel dos papeis guardados pela longa ausência dos abraços e beijos. É sofrido o sentimento imediatamente após desligarmos o vídeo de uma conversa com uma pessoa distante que amamos, de tal forma que, quando chega a hora, minha neta se recusa a ser a pessoa que clica no botão vermelho: Desliga você, diz ela, talvez por não querer ser a pessoa responsável pela frustração que virá em seguida.
Menos suficientes ainda são as reuniões de trabalho ou em grupos de amigas e amigos, nas quais me sinto incapaz de agir naturalmente e termino cansado, com a impressão de que fui indelicado, que interrompi alguém, que falei alto demais e não disse tudo o que gostaria, além da dificuldade de memorizar o que foi conversado. A minha própria imagem refletida em espelho num canto da tela exerce uma atração permanente para desviar o olhar de quem está falando, e lutar contra isso se torna progressivamente desgastante. Na minha vez de falar, não tenho para quem olhar diretamente, porque os olhares estão enviesados em relação à câmera, e acabo dirigindo o olhar para mim mesmo (que também estou olhando de lado) e o atraso temporal entre meus gestos e a tela cria uma incerteza psíquica, um delay antinatural numa conversação humana, que distrai e acrescenta um sentimento de tolice ao que estou dizendo. Quando encerro minha fala, é sempre com certo alívio.
Estava tentando entender estas coisas depois de passar duas horas num encontro virtual sobre história das vacinas (ver aqui: https://lorcartunista.blogspot.com/2021/03/vamos-dar-um-zoom-na-vacina.html ), quando recebi um texto enviado pela minha filha Luíza, falando sobre a chamada “fadiga do Zoom” (https://tmb.apaopen.org/pub/nonverbal-overload/release/1 ).
É uma hipótese de trabalho muito interessante desenvolvida por Jeremy Bailenson, um psicólogo que estuda os efeitos dos meios de comunicação sobre nossa mente. Baseado em estudos anteriores, ele acha que os encontros virtuais levam a uma fadiga porque exigem um grande esforço mental dos participantes ao alterarem algumas características fundamentais da conversação humana.
Jeremy mostra que durante nossos encontros pelos aplicativos de reunião (Zoom, por exemplo) ocorre uma excessiva proximidade com a face e o olhar dos outros durante muito tempo (como se estivéssemos num elevador com outras pessoas muito próximas). Além disso, somos obrigados a manter o olhar em quem está falando e nos outros ouvintes, mas perdemos os indicadores de comunicação não verbal e somos compelidos a permanecer inativos.
Finalmente, passamos o tempo todo com nossa própria imagem à disposição, num espelho permanente, o que pode se relacionar com a depressão (arrá!!!).
Tudo isso, resulta num esforço redobrado para a comunicação e gera sobrecarga mental. O autor sugere que as plataformas deveriam estudar soluções para estes problemas porque as reuniões online vieram para ficar. Algumas das soluções seriam, por exemplo, diminuir a sensação de proximidade das faces, aparecer apenas quem estiver falando, excluir a imagem em espelho dos participantes, permanecer com a câmera desligada sempre que possível, e outras.
Finalmente, Jeremy lembra que ainda precisamos estudar o impacto do Zoom sobre a saúde mental das pessoas.
Pois eu não tenho dúvidas quanto a isso. Meu próximo passo será chupar o cérebro de alguém vacinado contra a COVID. Quem sabe adquiro imunidade e posso sair à luz do dia para abraçar, cheirar e beijar pessoas de verdade?
Muito bom, Lor. Já tuitei.
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