Impressões de Cuba 1 – Ares cubanos (REVISADO EM 3/5/22)
Os três cartuns acima, criados pelo cartunista Arístides
Esteban Hernández Guerrero (ARES, ver aqui), foram considerados como o melhor conjunto de trabalhos no XV Salão
Internacional de Humor de Melaíto, acontecido na semana passada em Santa Clara,
no interior de Cuba e cidade famosa por conter o memorial do Che Guevara.
Participei
do júri, formado também pelos brasileiros Thalma e Santiago (um dos grandes
cartunistas brasileiros – ver aqui) e os cartunistas cubanos: Laz, Lacoste, Rolland e Lino.
Esta viagem a Cuba foi uma experiência inimaginável,
transformadora e, me parece hoje, será de grande importância por toda a minha
vida, comparável à primeira vez que saí do Brasil em 1986, para ir a Paris como
parte do Prêmio Globo de Quadrinhos que conquistei com a tira de humor “Telinho”.
Começo o relato das minhas impressões sobre esta viagem com
os cartuns do Ares, cartunista e formado em medicina como eu, porque além deles
terem sido agraciados com o grande prêmio do Salão de Melaíto, as três ideias trabalhadas
por ele parecem-me capturar de forma brilhante a situação de Cuba neste
momento.
Primeiro, o WALL-MARX traduz o momento crítico atual de
expectativa da suspensão do bloqueio econômico imposto há mais de meio século pelos
Estados Unidos, decretado em resposta à revolução cubana liderada por Fidel
Castro, o que é considerado pelos cubanos como o mais longo genocídio da história.
Depois do reatamento das relações diplomáticas (o bloqueio econômico
continua), não se sabe o que acontecerá com Cuba depois da queda do bloqueio:
será uma nova China? Será uma nova Alemanha Oriental? Um novo Vietnam?
Pareceu-me que, apesar de muitas conquistas na educação, na
saúde e na dignidade das pessoas, a população encontra-se cansada da guerra
econômica, esgotada em sua crônica penúria material e, em especial a juventude
que não viveu sob a ditadura mafiosa de Fulgêncio Batista derrubada por Fidel
Castro, deixa transparecer nítidas aspirações de se integrar à comunidade
internacional sem barreiras de qualquer tipo.
Segundo, a Estátua da Liberdade fazendo um self num dos
típicos carros antigos de Cuba, aqueles velhos carros americanos da década de
cinquenta, reformados umas dezenas de vezes por fora e adaptados a motores
diesel russos extremamente poluentes, é outro quase reconhecimento da vitória
do modelo norte-americano sobre os ideais de resistência dos cubanos mais
velhos.
A Liberdade fazendo turismo em Cuba, num taxi dirigido por alguém com
um quepe militar e roupa civil é uma cena muito parecida com o que vimos na
velha Habana, onde milhares de turistas de toda parte, inclusive Estados
Unidos, pagam 40 euros para uma volta de uma hora pela cidade naqueles carros transformados
em atração turística.
Terceiro, o Tio Sam espiando por trás da bandeira Cubana,
como se fosse a cortina de um teatro, pronto para entrar em cena, num momento que
parece em suspenso pelo estado de saúde de Fidel Castro, o líder carismático
onipresente desde a vitória do movimento armado que tomou do mesmo Tio Sam a
ilha de Cuba, que era uma espécie de colônia norte-americana, onde a máfia
podia circular e viver livremente nos melhores hotéis e os donos dos canaviais
eram senhores sobre a vida e a morte dos trabalhadores mantidos na miséria.
Continuo noutro dia.
Ótimas observações, caro Lor!
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