Impressões de Cuba 5 – Gerardo, um dos últimos soldados da Guerra Fria

No Nateu de 2012 (isso mesmo, o nosso Natal de ateus), recebi de presente da minha filha Ana o livro do Fernando Morais “Os últimos soldados da Guerra Fria” com a carinhosa dedicatória: “Para meu pai querido, último soldado de várias guerras, contra a injustiça, a pobreza (de espírito principalmente) e a falta de poesia no mundo”.
Nos dias seguintes, mergulhei na leitura do livro, uma história emocionante descrita de forma magistral pelo Fernando Morais, sobre a rede de agentes secretos que Cuba infiltrara entre os militantes anticastristas de Miami e que fora descoberta pelo FBI, com a consequente prisão dos cubanos, entre eles Gerardo Hernández, um diplomata convertido em agente da inteligência. 

O livro conta como foi que um pouco mais de uma dezena de cubanos e cubanas se infiltraram entre os anticastristas na Flórida para tentar parar os constantes atentados cometidos contra Cuba pelos militantes de extrema direita. Os agentes cubanos foram julgados e condenados à prisão nos Estados Unidos, mas depois de diversas intervenções políticas (entre elas do Papa Francisco, pelo que entendi), eles foram libertados e estão de volta a Cuba, recebidos como heróis e celebrados em outdoors (ver abaixo).

Quando li a história descrita pelo Fernando Morais não imaginava que um dia conheceria pessoalmente um deles, o Gerardo Hernández, que além de herói nacional gosta de desenhar charges e por isso mantém relações de amizade com diversos cartunistas cubanos, o que o levou à abertura do Salão de Melaíto, para a entrega dos prêmios (foto abaixo). 




















Momento da entrega dos prêmios, com o herói cubano Gerardo Hernández no centro das atenções, de camisa preta com a inscrição 50 Anos em azul.

Antes da premiação, Gerardo visitou a exposição “Aquarela do Brasil”, com 32 desenhos de cartunistas brasileiros reunidos sob a curadoria do mestre Santiago.


Como o Santiago se atrasara, coube a mim a tarefa de ciceronear o Gerardo durante a visita à exposição dos cartunistas brasileiros, comentando com ele o sentido de alguns desenhos no contexto da política brasileira.










Adán (cartunista do Juventud Rebelde), Lor, Gerardo e Ares de costas e o brasileiro Rafael Correa (premiado com menção honrosa no Salão de Melaíto deste ano) ao lado de uma bela caricatura do Ziraldo feita pelo mineiro Cahu Gomez.

Gerardo foi a única pessoa que percebi ser tratada como celebridade em Cuba, com status de herói nacional, com direito a atentos acompanhantes munidos de ualquitóquis e deferências sociais, inclusive por parte dos velhos combatentes como o fotógrafo de Sierra Maestra Perfecto Romero. Como venho comentando, a Guerra Fria ainda é uma realidade inevitável entre os cubanos.

Meus votos para eles, hoje, no último dia de 2015, é que em breve eles possam respirar mais aliviados, sem a ameaça do bloqueio econômico norte-americano, sem as restrições democráticas impostas por um estado de guerra permanente contra a extrema direita sediada em Miami, e que seus futuros heróis possam ser cada vez mais os civis que trabalham pela construção de uma sociedade humana mais justa e igualitária.



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