À espera de nada
Nos infinitos dias até ontem,
um poderoso futuro trazia-me vigor e coragem
para a guerra santa que desde jovem me arrebatara.
Bastou-me um ferimento banal,
mas incurável - no tempo de vida que me resta,
para tornar-me incapaz de continuar nas trincheiras
onde não conhecia o vazio e nem o tédio.
Jogado numa enfermaria, entre feridos e moribundos,
espero a padiola que me levará para longe das batalhas pela vida,
para deixar-me nos campos melancólicos e irreversíveis
da velhice e do esquecimento.
À espera da morte, descubro a ilusão:
o suposto inimigo durante anos
nada passa de partículas subatômicas,
indiferentes ao que chamamos de destino,
sentido ou razão.
Senador Ferrante
Anno Domini X
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