Dr. Lula

 





(atenção estômagos sensíveis, este texto contém coisas nojentas)

Durante o ataque à democracia que sofremos no último domingo fui envolvido por uma angústia crescente e profunda diante do risco de um golpe militar disparado com o argumento de controle do caos. A ansiedade não me permitia sequer permanecer sentado diante das imagens assustadoras exibidas na TV, de onde não conseguia tirar os olhos.

À medida que o governo Lula foi assumindo o controle da situação e os bolsonaristas foram evacuados da Praça dos Três Poderes e presos, comecei a sentir o alívio que todos conhecem quando um abscesso se esvazia depois de um tempo de inflamação e dor progressiva.

Nós, médicos, somos tentados a usar metáforas envolvendo coisas de nossa profissão. Outro dia, numa crônica sobre o livro de Leonardo Padura “O homem que amava os cachorros” escrevi que diante dos crimes cometidos pelos stalinistas restou-me um sentimento de estoica esperança, uma esperança do tipo daquela que existe diante de um corpo parcialmente tomado pela gangrena: que seja possível a amputação”

Antes de ontem, o colega médico e escritor Carlos Starling usou a metáfora de um tumor maligno (com metástases) num texto brilhante (como sempre) no jornal Estado de Minas para se referir ao bolsonarismo.

Por isso, ao ver os golpistas e terroristas aumentando em número nos acampamentos subversivamente financiados e mantidos na frente dos quarteis do exército complacente, sou forçado a lembrar o processo de formação dos abscessos: uma coleção de pus produzido pela reação do organismo contra corpos estranhos, ou seja, uma infecção contida dentro de uma cápsula fibrosa, que somente pode ser curada se a cápsula se romper espontaneamente ou for rompida por um instrumento, um bisturi, por exemplo. 

No caso da pústula bolsonarista em questão, felizmente o Dr. Lula, pela sua ação política magistral, não apenas lancetou o abscesso, - termo médico para cortar a cápsula fibrosa com o bisturi- mas entrou com uma dose forte de antibióticos contra o fascismo infeccioso ao ser capaz de reunir todos governadores e governadoras com os representantes do Congresso Nacional e do Poder Judiciário para prestarem apoio à democracia - mesmo aqueles eleitos pelos bolsonaristas - e depois saírem caminhando pela mesma praça onde, APENAS 24 horas antes, os criminosos alucinados tentavam destruir alguns dos símbolos da democracia.

Não estamos curados desta pandemia de estupidez que nos ameaça, é claro, e ainda muito distantes de uma saúde social mínima, mas amanheci hoje sem a febre do medo, a febre com calafrios causados pela doença crônica da violência, desconstrução da sociedade e destruição do ambiente que estamos sofrendo há 4 anos. 

Hoje, sinto-me convalescendo e muito agradecido ao mais habilidoso doutor honoris causa em política do Brasil, o presidente legitimamente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.

Para sublimar minha angústia nestas últimas horas, rabisquei alguns cartuns, os quais compartilho abaixo com vocês, colegas de enfermaria.

E basta de metáforas médicas por um bom tempo!

Lor










Comentários

  1. Sensacional, Lor! Na mosca.

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  2. Dr. Lula, excelente texto, digna comparação aos bons, sábios e conscientes médicos.

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