Câmeras fechadas
Aroeira e eu conversamos hoje sobre charges e cartuns com um grupo de estudantes (14 a 15 anos) por meio de videoconferência.
Não vou identificar quem são, pois meus sentimentos não são dirigidos apenas a este grupo, e nem estas pessoas são culpadas por uma pandemia que nos isolou há dois anos, em condições agravadas por uma gestão criminosa da saúde pública, que prolongou o sofrimento coletivo e causou a morte de centenas de milhares de pessoas por causa de sua ignorância e desprezo pela vida humana.
Poucas das pessoas presentes abriram suas câmeras durante as duas horas do encontro e foram as mesmas que toparam fazer perguntas e comentários.
Senti enorme tristeza, angústia por não ver os rostos para quem Aroeira e eu tentávamos passar um pouco dos desafios e técnicas relacionadas com a nossa arte de fazer cartuns, charges, caricaturas e quadrinhos.
Sei que é muito estressante para a maioria das pessoas, seres humanos que evoluíram para o contato social intenso, aguentarem tais conversas por vídeo, sem expressão corporal completa, sem a dinâmica de interações afetivas que levamos milhares de anos desenvolvendo. Não é culpa destes jovens estudantes que prefiram desligar suas câmeras.
Ao final, uma professora pediu-me que mostrasse o meu processo criativo e decidi que faria uma demonstração prática, criando uma charge ou cartum com um tema sugerido pelo grupo.
Abri minha tela para desenhar “ao vivo” e alguém sugeriu Educação. Outra pessoa falou: Política. Uma terceira pessoa disse: Aulas por videoconferência!
Isso! Era esse o tema tema daquele momento para mim: a angústia que eu estava sofrendo ali, diante de dezenas de câmeras e microfones fechados, permitindo a visualização apenas dos nomes e de pequenos, impessoais e importados avatares (nem mesmo fotos!) representando cada aluno.
Reuni os símbolos necessários para construir a charge que deveria exprimir minha indignação contra estes tempos: um computador, uma pessoa diante da tela e, na tela... quase todos mortos para qualquer diálogo.
Diante de minha charge, mais dois ou três jovens abriram suas câmeras. Mas já era tarde para recuperarmos uma dinâmica mais alegre e construtiva naquele encontro.
Prometi passar aquele rascunho a limpo e publicar no meu blog. Aí está, acima, o desenho criado com e para aquelas quase-crianças isoladas pela pandemia.
Espero que as pandemias de vírus e telas sejam um dia controladas e possamos sair destes túmulos silenciosos em que subvivemos como ZOOMBIS.
Então, deixaremos o sombrio vale do silício e voltaremos a nos tocar e falar cara a cara, coração a coração, como seres humanos plenos.
Lor
Mais reflexões sobre a vida nas telas:
https://lorcartunista.blogspot.com/2021/10/bye-buy.html
https://lorcartunista.blogspot.com/2020/09/o-dilema-das-redes.html
https://lorcartunista.blogspot.com/2019/02/o-mickey-e-o-bolsonaro.html
Poucas das pessoas presentes abriram suas câmeras durante as duas horas do encontro e foram as mesmas que toparam fazer perguntas e comentários.
Senti enorme tristeza, angústia por não ver os rostos para quem Aroeira e eu tentávamos passar um pouco dos desafios e técnicas relacionadas com a nossa arte de fazer cartuns, charges, caricaturas e quadrinhos.
Sei que é muito estressante para a maioria das pessoas, seres humanos que evoluíram para o contato social intenso, aguentarem tais conversas por vídeo, sem expressão corporal completa, sem a dinâmica de interações afetivas que levamos milhares de anos desenvolvendo. Não é culpa destes jovens estudantes que prefiram desligar suas câmeras.
Ao final, uma professora pediu-me que mostrasse o meu processo criativo e decidi que faria uma demonstração prática, criando uma charge ou cartum com um tema sugerido pelo grupo.
Abri minha tela para desenhar “ao vivo” e alguém sugeriu Educação. Outra pessoa falou: Política. Uma terceira pessoa disse: Aulas por videoconferência!
Isso! Era esse o tema tema daquele momento para mim: a angústia que eu estava sofrendo ali, diante de dezenas de câmeras e microfones fechados, permitindo a visualização apenas dos nomes e de pequenos, impessoais e importados avatares (nem mesmo fotos!) representando cada aluno.
Reuni os símbolos necessários para construir a charge que deveria exprimir minha indignação contra estes tempos: um computador, uma pessoa diante da tela e, na tela... quase todos mortos para qualquer diálogo.
Diante de minha charge, mais dois ou três jovens abriram suas câmeras. Mas já era tarde para recuperarmos uma dinâmica mais alegre e construtiva naquele encontro.
Prometi passar aquele rascunho a limpo e publicar no meu blog. Aí está, acima, o desenho criado com e para aquelas quase-crianças isoladas pela pandemia.
Espero que as pandemias de vírus e telas sejam um dia controladas e possamos sair destes túmulos silenciosos em que subvivemos como ZOOMBIS.
Então, deixaremos o sombrio vale do silício e voltaremos a nos tocar e falar cara a cara, coração a coração, como seres humanos plenos.
Lor
Mais reflexões sobre a vida nas telas:
https://lorcartunista.blogspot.com/2021/10/bye-buy.html
https://lorcartunista.blogspot.com/2020/09/o-dilema-das-redes.html
https://lorcartunista.blogspot.com/2019/02/o-mickey-e-o-bolsonaro.html
Comentários
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário que será enviado para o LOR.