Tiro ao negro



Esta foto divulgada pelo governo Bolsonaro precisa ser compreendida: seria um homem, provavelmente branco, suficientemente rico para comprar um rifle com mira telescópica, defendendo um matagal pegando fogo, postado ali para afastar agentes do Ibama ou lavradores do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra?

Onde está o agricultor? Não há lavoura, não há alimentos à vista, não há terra preparada para ser semeada.

Talvez haja covas preparadas fora do nosso campo de visão, não para sementes, mas destinadas a ocultar corpos de possíveis “invasores”.

Esta foto, transformada em plataforma ideológica pela Secretaria de Comunicação da Presidência, atinge vários alvos.

O primeiro deles, ideológico, é o fazendeiro branco, que se sente autorizado a matar seres humanos para proteger as terras que ocupa, muitas delas compradas de grileiros que invadem reservas florestais impulsionados pelo vale-tudo no campo proclamado pelo presidente genocida. A autorização institucional para a violência é o primeiro passo para o estado nazi-fascista, nos ensina Hannah Arendt.

O segundo alvo será o peito de um trabalhador sem-terra, que ouse se aproximar da terra degradada para engordar boi ou plantar soja para exportação e não para alimentar o povo brasileiro. Talvez venha a ser o coração de um homem negro, que irá ocupar as covas preparadas pelo ódio, um subproduto do agronegócio.

O terceiro alvo é a nossa democracia, mais uma vez gravemente ferida pelas milícias do capitão do mato.





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