Impressões de Cuba 6 – Os heróis civis















Este desenho é uma adaptação da piada que ouvi de um dos cartunistas cubanos, que retrata a situação de baixa remuneração dos médicos cubanos, comparando-os aos trabalhadores que estão próximos aos turistas, dos quais podem receber gorjetas em peso turista (equivalente a 1 dólar) que significam quantias substanciais em peso cubano (25 vezes menos). 

De fato, apesar do seu acesso garantido aos serviços públicos, como moradia, transporte, saúde e educação (básicos e no limite da pobreza), meus colegas cubanos recebem cerca de 50 dólares por mês de salário, o que representa um pouco mais que o salário mínimo de cerca de 36 dólares, uma pequena diferença com os demais trabalhadores, comparada aos exorbitantes salários médicos em outras partes do mundo.

A dureza da vida cotidiana e o número de médicos formados por Cuba anualmente (apenas 2 mil a menos do que o Brasil) faz com que cerca de 15 mil profissionais de saúde sejam enviados para diversos países que precisam deles por diversas razões, entre elas pela sua ausência onde os médicos nativos não querem trabalhar (como no Brasil). Estes trabalhadores da saúde ao redor do mundo enviam boa parte do que recebem no exterior para Cuba e assim constituem a primeira fonte de divisas internacionais da ilha, mais até do que o turismo.

Formados com uma visão preventiva e de atendimento à saúde básica (ao contrário do nosso caríssimo modelo norte-americano focado no tratamento hospitalar das doenças), a maior escola de medicina de Cuba recebe estudantes de diversos países para voltarem à sua região e trabalharem para os mais pobres. Ao contrário daqui, onde a seleção dos estudantes é feita pela competição (leia-se renda familiar suficiente para pagar colégios caros ou mensalidades milionárias), em Cuba os futuros médicos são selecionados pela sua carência na região de onde provém.


Posicionei-me com algumas charges no Jornal da Associação Médica de Minas Gerais (ver abaixo) de forma contrária ao Programa Mais Médicos porque acredito que se nossa lei manda revalidar o diploma de todo médico estrangeiro que pretenda trabalhar no Brasil, isto deve valer também para os cubanos. Outro aspecto é que seus contratos devem ser semelhantes aos dos demais trabalhadores brasileiros, em termos de garantias e previdência. Ou as leis valem para todos, ou regredimos na difícil construção da democracia.














































Não é apenas de médicos que se fazem os heróis civis de Cuba: há outros profissionais que se dedicam a desenvolver tecnologias para diminuir a pobreza e os danos ecológicos. Entre eles, tive o prazer de conhecer José Fernando Martirena Hernández, engenheiro e professor universitários, durante a abertura de uma exposição dos cartuns do seu irmão, um dos melhores cartunistas cubanos, o Martirena. 














José Fernando, Dania, Niury e Thalma, durante a exposição de cartuns do Martirena num centro cultural em Santa Clara


José Fernando e sua equipe da Universidade Central “Martha Abreu” de Las Villas desenvolveram uma nova tecnologia para materiais de construção que diminui em 30% a poluição. Suas descobertas estão sendo aplicadas em várias partes do mundo, inclusive na fabricação de cimento no Brasil pela Votorantim. Por estas descobertas, eles receberam em 2011 um prêmio da United Nations Human Settlements Programme, assim como outros reconhecimentos, em especial do presidente Cárdenas no México.

O cartum abaixo mostra que os irmãos Martirena estão do mesmo lado na luta por um mundo melhor.


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