Por um outro mercado de trabalho

Vera Prates

médica, psiquiatra,
representante de 
Minas Gerais na
Associação Brasileira 
de Médicas e Médicos
pela Democracia

É claro que a sobrecarga das mulheres, com os trabalhos domésticos e com os filhos, a qual conheço bem por experiência própria, dificulta ou mesmo impede nossa melhor inserção social e no mercado de trabalho, nossa realização profissional, lazer e até cuidados pessoais. Esta sobrecarga é um problema seríssimo a ser enfrentado pela na luta feminista.

Mas gosto também de ver a questão por outro ângulo.

Como médica, eu tive a chance de trabalhar meio horário. Tenho um companheiro solidário, que sempre dividiu, ainda que parcialmente, as tarefas comigo. Além disso, como um casal de médicos, mesmo eu trabalhando meio horário, minha renda somada a do meu marido, permitiu uma vida segura e confortável para nós e nossos filhos. Nunca passamos por privações. Sinto-me imensamente privilegiada por nunca ter precisado de abdicar nem da minha profissão e nem da maternidade, nem terceirizar os cuidados com meus filhos. Cuidados, aliás, estou convencida, que foram fundamentais para que eles se tornassem o que são hoje.

O que quero dizer é que maternidade não é obrigação, mas é, sim, um direito de toda da mulher.

Gostaria de ver mais pessoas defendendo o direito da mulher de ser mãe e poder maternar seus filhos.

Precisamos continuar a reivindicar o direito da mulher de se inserir no mercado de trabalho em igualdade de condições com os homens. Mas o que temos hoje é um mercado de trabalho eminentemente masculino e patriarcal. Assim, precisamos começar também a lutar por um mercado de trabalho que permita às mulheres exercerem plenamente a maternidade, quando optarem por ela. Ou a paternidade, no caso de pais que que queiram mais tempo para se dedicarem aos filhos.

O fato é que crianças, adolescentes, doentes e idosos necessitam de cuidados amorosos. Não desejo uma sociedade em que a educação de crianças e adolescentes sejam conduzidas por verdadeiras linhas de produção, como são a maioria das creches e escolinhas infantis. Nem onde doentes e idosos signifiquem tão somente sacrifícios e trabalho braçal para os mais jovens ou sejam simplesmente abandonados em instituições para excluídos do convívio social.

Fica então esta questão para pensarmos juntos.







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