Meu primeiro 7 de setembro

 


É possível que este próximo sete de setembro se torne uma data marcante, seja porque teremos sofrido mais um golpe militar, seja porque todas as ameaças fascistas não terão passado de mais um blefe para continuar o processo de corrosão da frágil democracia brasileira.

De qualquer forma, esta data já me é inesquecível desde o tapa que levei de minha mãe por me recusar a vestir o uniforme da escola, com o qual deveria desfilar pelas ruas de Lambari nas comemorações do 7 de setembro de 1958.

Ter que vestir aquela roupa e marchar batendo os pés ao compasso de uma banda militarizada pareceram-me coisas ridículas de se fazer, ainda que eu não soubesse justificar à época o porquê da rebeldia. Talvez fosse o embrião da visão internacionalista que amadureceria em mim com os anos, opondo-me aos diversos patriotismos que infestam nossa humanidade.

Minha mãe, aprisionada pela crença na pedagogia violenta da época, lascou-me um tapa na perna direita com tanta força que aos prantos me submeti ao uniforme e depois me juntei aos colegas reunidos na praça, enquanto os vergões do tapa inchavam na minha pele.

Depois, passando por minha mãe durante o desfile, segundo ela, dei uma piscadela e ela, ao ver meu gesto amoroso mesmo com as marcas de seus dedos na minha perna, caiu em prantos arrependida por haver me batido. Esse episódio se tornou um remorso permanente, que a levava às lágrimas ao ser lembrado ao longo de sua vida.

Provavelmente, durante a parada eu já havia me esquecido do tapa, mas nunca mais suportei desfiles e uniformes militares, exibições de nacionalismos e outras patriotadas.

Continuo achando essas coisas ridículas de se fazer. Não há tapa que mude isto.


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