Ao mestre, com gratidão

 


Acabo de ler A Caravela, do meu professor de quadrinhos e de história do Brasil, compadre, amigo e irmão de nanquim, o Nilson Azevedo, que carinhosamente me enviou um exemplar (no sentido mais profundo do termo) do seu livro.

Esta edição d’A Caravela (2022) é uma pequena amostra do humor e da alma deste cartunista pleno, o primeiro que conseguiu sobreviver do trabalho de cartunista nas terras de Minas sem se mudar para o Rio ou São Paulo, quando a cultura brasileira era (e continua sendo) colonizada pelos norte-americanos, mas também subcolonizada pelos cariocas e depois pelos paulistas. Basta lembrarmo-nos de alguns dos artistas mineiros que precisaram migrar para o Rio, como Drummond, Guimarães Rosa, Otto Lara Rezende, Fernando Sabino, Borjalo, Ziraldo, Henfil e Nani e por lá ficaram.

Depois da ousadia do Nilson, permanecemos, seus discípulos, reunidos em Minas em torno de projetos regionais de resistência contra a ditadura, como o Humordaz, o Grupo Mineiro de Desenho, os Cadernos do CET, o Jornal De Fato e outras aventuras político-artístico-existenciais, que incluíram a fundação do Partido dos Trabalhadores, nos longínquos (mas ainda recalcitrantes e ameaçadores) tempos da ditadura militar.

Antes de mergulharmos nesse ativismo cultural, pelos idos de 1974, Nilson ajudou-me a superar o estresse pós-traumático da prisão política, pois costumava passar horas conversando 
comigo, nos intervalos dos atendimentos, durante meus plantões no Hospital Socor. Com o entusiasmo de um profeta, Nilson ofereceu-me naquelas conversas a sua imensa cultura sobre quadrinhos, história do Brasil, escravidão, povos indígenas, política e cinema. Tudo isso recheado de declarações apaixonadas por mulheres que ele admirava incondicionalmente e que constituíam um panteão de deusas inspiradoras para sua energia criativa e seus pecados contra a castidade.

Foi com Nilson que aprendi que o alvo do bom humor é o opressor e nunca o oprimido. Suas histórias reunidas n’A Caravela mostram exatamente como ele sabe e nos ensina a fazer esse bom humor.

Obrigado, amigo, por dividir conosco sua tábua de salvação neste mar repleto de destroços flutuantes dos naufrágios recorrentes das nossas Caravelas e Nows sem rumo.



Lor

Setembro 22



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Reportagem no O TEMPO 





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