Bagaços
O saldo de dois anos e meio de pandemia, agora reduzida nos números por causa da vacinação (e transformada em endemia por decreto), tem sido o agravamento das desigualdades sociais, o aumento do risco de uma guerra nuclear e a menor articulação global para o enfrentamento da crise climática já em curso.
Este tempo de dor e tristeza parece não ter abalado as convicções daquela parte da humanidade que é insensível ao sofrimento coletivo. Continua uma em cada quatro pessoas negando o racismo e os crimes da escravidão, sustentando o machismo assassino, defendendo os genocídios indígenas, provocando mais aquecimento global e culpando os pobres pela própria miséria. Essas pessoas estavam aí antes da pandemia e de Bolsonaro, aliás, ajudaram sua eleição, e continuarão a defesa de seus interesses depois dela e dele.
De positivo, na pandemia, apenas a capacidade científica de produção imediata de vacinas, uma vantagem rapidamente convertida em lucros pela tecnologia dos grandes laboratórios. Portanto, uma vitória parcial para a humanidade, pois continua menor a disponibilidade de vacinas para países e pessoas mais pobres.
Se pandemias produzem modificações históricas e se há uma tendência de menos violência e mais democracia nos últimos 500 anos, talvez estejamos vivendo um dos momentos de recuo civilizatório. Segundo Steven Pinker, o crescimento da noção de igualdade entre os seres humanos, o espírito democrático e o desenvolvimento científico seriam os fatores culturais mais importante neste período, que pressionaram a sociedade no sentido de reduzir as injustiças sociais e enfrentar alguns mitos opressivos (racismo, machismo, nacionalismo, autoritarismo, fanatismo religioso). Além disso, o desenvolvimento tecnológico teria elevado o nível geral de riqueza da população, apesar do aumento simultâneo da desigualdade econômica.
No entanto, a igualdade, a democracia e a ciência contrariam os interesses poderosos das elites econômicas e religiosas, que possuem armas físicas e ideológicas com as quais resistem à perda dos seus privilégios. E onde elas vão recrutar seus soldados? Naquela fração da população mais vulnerável ao falso discurso meritocrata, que durante a pandemia se tornou ainda menos sensível ao sofrimento coletivo e mais individualista. Ela abraça fanaticamente a ideologia do cada um por si, porque o resto é presente de Deus.
Uma em cada quatro pessoas no Brasil, depois de tudo que já sabem sobre os crimes de Bolsonaro e sua quadrilha, desejam sua permanência no poder. Apesar de estarem em minoria na sociedade, os bolsonaristas conquistaram o poder, onde estão destruindo rapidamente as estruturas de proteção coletiva que levaram anos para serem construídas.
Eles tentam derrubar as poucas conquistas socialistas, democratizantes, feministas, antirracistas, libertárias, pacifistas e ecológicas que temos defendido.
Eles são o instrumento dos ricos capitalistas para espremer o mundo até o bagaço, em busca do lucro.
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