Uma parte do mal-estar da incivilização que estamos vivendo nos últimos anos talvez seja o resultado da simbiose que estabelecemos com nossos computadores. Sabe-se que as novas tecnologias moldam nossa visão de mundo e temos cada vez mais incorporado a lógica digital das máquinas inteligentes ao nosso cotidiano, logo, é possível que estejamos desaprendendo a pensar fora do sistema binário dos processadores digitais, do zero ou um. Neste modelo mental, reproduzimos nossos valores dentro da escala do tudo ou nada, do contra ou a favor, do ame-o ou deixe-o e outros sectarismos humanos, os quais tornaram cada vez mais impossível qualquer acordo, solução de compromisso intermediário e de bom senso, ou seja, a convivência democrática. A polaridade política excessiva é uma das condições para a morte das democracias, nos lembram Steven Levitsky e Daniel Ziblatt (Editora Zahar, 2017), ao analisarem como algumas experiências democráticas foram interrompidas na Alemanha, Venezuela, Chile e outr...