Gerações entendem um cartum diferentemente



O entendimento e o alvo da crítica de um cartum podem ter interpretações diferentes conforme o momento histórico. 

Quando desenhei este cartum, que recebeu o troféu de prata no XVII Salão Carioca de Humor (2006), tinha absoluta certeza de que a minha intenção de denunciar a discriminação racial na sociedade, - no cartum representada pela natação, - esporte onde, de fato, são raros os atletas negros de destaque, - seria compreendida pelos membros do júri – o que aconteceu. 

Mas eu também acreditava que qualquer pessoa que visse o cartum em qualquer época o entenderia da mesma maneira, o que, para meu aprendizado, não se confirmou.  

Durante uma exposição de desenhos meus na Faculdade de Medicina da UFMG (2010), observei alguns jovens nascidos provavelmente na década de 90 que entenderam que o cartum da piscina debochava do menino negro e, surpreso, constatei que eles estavam achando graça... – da vítima! 

Depois, durante uma palestra proferida na Clínica Psiquiátrica do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais, a convite do Dr. Fábio Rocha (2014), apresentei esta diferença entre minha intenção com o cartum e a sua interpretação por outras pessoas. Uma médica na plateia comentou, surpresa, que imaginava que eu estaria criticando as cotas para negros na universidade, crítica com a qual ela concordava. Para completar, semanas depois, conversando sobre este mesmo cartum e suas diferentes interpretações com três jornalistas, uma delas disse que o havia entendido como uma ilustração das e, para meu espanto, ela é uma jovem negra. 

Estes exemplos tornaram para mim evidente o caráter histórico do cartum, pela diferença de interpretação das pessoas de minha geração, - para a qual o cartum costumava ser crítica social, - das outras gerações, como os jovens atuais, que dispõem de milhares de cartuns diariamente pela internet: talvez eles entendam que um cartum seja somente uma brincadeira, ainda que seu tema seja o racismo.




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