Um ser especial





















































Recebi alguns comentários sobre minhas impressões de Cuba, em geral de amigos atenciosos, inclusive do Santiago, que participou da viagem inesquecível que fizemos, e do Cid Velloso, que reproduzi aqui no blog e de alguns cubanos.

Interessante foi perceber que a maioria “gostou” do texto (são amigos, é claro), apesar do amplo espectro de opiniões políticas contida neste seleto grupo de leitores. Alguns perceberam no relato qualidades jornalísticas (no caso, uma percepção do Ernesto Rodrigues, um dos maiores jornalistas brasileiros, por coincidência meu irmão, o que muito me honra), outros ficaram emocionados e houve até alguém que encontrou nele alguma poesia.

No entanto, um dos comentários, de uma pessoa que não quer ser identificada, lastimou o que chamou de “tragédia do meu idealismo de esquerda”, apesar de se sentir solidário comigo neste suposto infortúnio.

Fiquei a matutar sobre suas palavras enviadas como solidariedade e crítica ao mesmo tempo.

Confesso que gostaria de ter a mesma certeza que meu interlocutor percebeu em minhas ideias, se seria eu um sujeito de esquerda, o que sinceramente gostaria de ser, se por esquerda significar ter esperança de que um mundo melhor é possível, apesar de tantas evidências em contrário.

Em decorrência deste idealismo, diz meu interlocutor, no relato sobre Cuba eu teria preferido a igualdade à liberdade. Diante da palavra “liberdade” minhas sinapses acostumaram a perguntar: considerando meus genes, o ambiente em que nasci, a minha classe social e época histórica, o que significa então liberdade de escolha? Talvez essa liberdade não passe de "vaidade das mínimas diferenças", como chamou a atenção Freud e eu adaptei no cartum publicado acima, na revista KYX’93, que criamos em 1998, quando eu morava em São Paulo.

Se a palavra liberdade se refere ao direito de todos de expressarem sua opinião, ah, então não pode haver exceção: é um direito humano inalienável.

Se a palavra liberdade se refere ao livre comércio, tudo bem, desde que livre também seja o movimento das pessoas, os trabalhadores. Atualmente, apenas o capital goza deste direito, entrando e saindo de qualquer lugar de acordo com seus interesses, enquanto aos trabalhadores restam as fronteiras (políticas, raciais e econômicas). Lembremos dos refugiados da Síria na Europa, vejamos os trabalhadores do Haiti no Brasil.

Como tenho defendido: por um mundo sem fronteiras para os seres humanos.

Quanto à igualdade absoluta (como supostamente é compreendida pelos críticos que dela discordam) eu não a advogaria nem mesmo para as bactérias, que trocam material genético entre si, formando indivíduos suficientemente diferentes para, inclusive, resistirem a um antibiótico mal-usado.

Por outro lado, não me parece aceitável que a meia centena dos indivíduos mais ricos do mundo possuam impunemente uma riqueza equivalente aos bens da metade mais pobre do planeta (cerca de 62 super-ricos contra 3 bilhões de seres humanos). Aliás, depois de liberados os dados da Receita Federal de 2013[1], descobre-se que o Brasil é o pais com a maior desigualdade do mundo! (Graças, entre outros fatores, a uma lei aprovada em 1995, durante o governo do Fernando Henrique Cardoso, que isentou de impostos o lucro e os dividendos – ver Le Monde Diplomatique Brasil nas bancas hoje).

Entre estes dois extremos, há espaço para defendermos mínima desigualdade com máxima liberdade. Aliás, o partido no qual me inscrevi denomina-se Socialismo E Liberdade. Grifo o E.






[1] Por falta de informações da Receita Federal no Brasil, para proteger as grandes fortunas, é claro, os dados brasileiros não puderam fazer parte das informações do Thomas Piketty em seu livro “O Capital no Século XXI”. Aliás, um livrinho maçante: verdadeiro castigo ler 2/3 dele!

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