Posso comprar uma eleição?
Ainda insisti com ela se a democracia não significaria igualdade
de oportunidades, inclusive de condições financeiras entre os candidatos? Ela respondeu
que a democracia é apenas um método para se escolher quem vai nos governar, portanto,
se há mais milionários de um lado da disputa isso não invalida a eleição, temos
apenas que torcer para que o dinheiro esteja do nosso lado, como comemoraram os
democratas diante do crescimento das doações para Kamala Harris nos primeiros momentos
após o anúncio de sua candidatura.
Minha prima parece não estar sozinha no ambiente de
desintegração de valores sociais em que vivemos, como demonstra Wendy
Brown em seu livro “Nas ruínas do neoliberalismo - a ascensão da política
antidemocrática no ocidente”. A professora de ciência política Wendy Brown revela
de forma chocante como o neoliberalismo considera a democracia apenas um método
ocasionalmente necessário para o controle da sociedade e não um objetivo
ou valor em si, muito menos a maneira de se construir uma sociedade na qual a
igualdade seja o princípio fundamental.
Aliás, é exatamente a ideia de igualdade entre as pessoas a grande vilã para o pensamento dominante que a elite dissemina com todos os recursos disponíveis tentando negar que os seres humanos tenham os mesmos direitos políticos e, principalmente, econômicos.
Por isso, a burguesia precisa insistir na
existência de “diferenças naturais” de sexo, de raça, de culturas, de
nacionalidades, de sangue azul, enfim, que explicam as fortunas, justificam o
patriarcado, a propriedade privada e as heranças. Para o 1% mais rico, qualquer
proposta de redução das desigualdades sociais é considerada “comunismo”.
Para nos convencer da naturalidade do seu mundo terrivelmente desigual, a burguesia criou a mais profunda convicção na meritocracia – desde o filho do empresário católico aos moradores das periferias evangélicas, - do bolsonarista na frente do quartel ao esquerdista no suposto comando do governo – todos pensam que as pessoas merecem o que elas têm.
Curiosamente, foi justamente este caminho, o da
meritocracia, que a classe dominante não percorreu para estabelecer seus
poderes, a não ser que possamos chamar os canhões, a escravidão, a herança da
aristocracia, as colônias, e os bloqueios econômicos de “mérito”.
Nesse ambiente, naturalmente, um milionário que “merece” sua
fortuna, segundo minha prima, tem todo o direito de comprar qualquer eleição a
favor do seu candidato. O resto é comunismo.
Comentários
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário que será enviado para o LOR.