Hoje, não.

 



Hoje, preciso deixar de lado as guerras, tantas,

feitas a paus, pedras e tacapes nucleares,

acontecendo num tempo que, imaginávamos,

seria agora nosso futuro de paz.

 

Hoje, não pensarei nas pandemias

de vírus, de obesidade infantil, de mentiras eletrônicas,

e esquecerei temporariamente o mundo se aquecendo

por causa de corações congelados pelo lucro.

 

Hoje, fecharei meus olhos por uns momentos

para minhas queridas crianças solitárias

em celulares, autismos e baixa autoestima,

e taparei os ouvidos para o barulho dos motoqueiros 

entregando a alma em domicílios.

 

Hoje, apesar de todas as necessidades do cosmos,

contra todas as orientações

do waze, das waves, das vibes e dos astros,

cuidarei dos meus ossos.

 

Antes que eles não suportem mais o peso do pincel 

que tenho usado por meio século para pichar muros e telas 

com a mesma mensagem alienígena:

outros mundos são possíveis.



OBS: este foi meu primeiro falso poema parcialmente ditado para o computador por incapacidade temporária (espero) de usar a mão para digitar. Quem sabe, no próximo, com o avanço da decrepitude, usarei inteligência artificial?

 

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