MANÉCÔMIO

 

Sinto raiva e pesar pelos manés diante dos quarteis.

Raiva, pelas perdas e danos que já causaram e ainda podem causar.

E pesar, como diante de pessoas acometidas por doenças graves e incuráveis, mas que talvez pudessem ter sido evitadas.

Como disse o médico e escritor Rômulo Paes, ontem, na reunião dos amigos Facundos, - estes indivíduos nas portas dos quarteis, sob sol e chuva, são órfãos.

Órfãos da globalização que atingiu os nacionalismos.

Órfãos do machismo tóxico não mais tolerado.

Órfãos do controle que exerciam sobre a sexualidade alheia.

Acrescento, órfãos da meritocracia - que não os tornou aquilo que esperavam, órfãos da família patriarcal autoritária, órfãos das tradições religiosas - criticadas pelo materialismo, órfãos da juventude perdida nos afazeres da classe média e órfãos de um pai castrador e violento.

São pessoas que nunca haviam ido para as ruas em defesa de causas coletivas, como diretas já, democracia, preservação da Amazônia ou pelo fim da fome.

Agora, que suas barrigas não mais permitem que vejam o chão onde pisam, a realidade social, olham apenas para os próprios umbigos.

Nessa alienação disfórica e violenta, tentam satisfazer seus instintos primitivos de pertencimento ingressando no grupo formado pelo carisma fascista do capitão genocida, psicopata, derrotado e depressivo.

Quando a democracia receber alta do CTI, e os manés forem recolhidos por ambulâncias ou viaturas, como consolo, cada um receberá um pen-drive distribuído pelo filho do mito

Com todos os jogos da Copa, que ele gravou no Qatar.



Lor



Comentários

  1. Puxa, na mosca meu amigo! Talvez o diagnóstico dos manés seja mais pertinente fazê-lo na área da psicopatologia. Regis Gonçalves

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  2. Adorei o tom irônico, quase sarcástico! Só discordo de uma coisa: sua análise da psicopatologia que observamos é incapaz de cobrir todas as facetas e nuances dessa aberração coletiva! E mais: por mais incrivelmente ridícula que seja a paranóia, ela é assustadora e não deve ser desprezada! (Não que seu texto o faça. Eu me refiro à sociedade, que às vezes trata traços psíquicos doentios coletivos como uma coisa marginal, de tão risível. O resultado já conhecemos muito bem). Abraço, meu amigo! Luciano Prado

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