Chocolate amargo

 

Queridos jovens amigos Francisco e Daniel.

Sei que recebem minhas publicações, por isso espero que sua Páscoa amanhã seja um momento de conforto e alegria, já que esta data representa uma passagem na vida, como aprendi desde cedo. Vocês sabem que estamos numa travessia difícil e ainda não temos noção de quanto tempo ainda sofreremos antes de desfrutarmos a paz tão desejada. Ainda assim, gostaria de oferecer a vocês algumas esperanças, como se fossem chocolates, como símbolos deste momento.

Espero que a pandemia termine logo, interrompendo a contagem de centenas de milhares de vidas perdidas, número que já se tornou incompreensível para nossa mente, que é incapaz de lembrar pouco mais do que algumas dezenas de nomes. Espero que possamos reunir sobreviventes para resistirmos ao vírus e aos seus aliados bolsonaristas, aqueles que produzem um genocídio ao defenderem interesses econômicos e políticos em benefício do lucro das grandes corporações.

Desejo que a pobreza e a miséria sejam abolidas o mais breve possível, retornando os empregos dignos para todos e o auxílio financeiro para os mais vulneráveis. Para isso, precisamos combater a desigualdade econômica, que voltou a crescer desde que os empresários passaram a destruir os direitos dos trabalhadores e dinamitar os projetos de desenvolvimento social que surgiram depois da Segunda Guerra Mundial.

Compartilho com vocês o ideal de promovermos a dignidade social, que vínhamos construindo com o respeito aos Direitos Humanos. Para isso, vamos defender radicalmente a igualdade econômica, a diversidade de culturas, a liberdade de opinião, o fim do machismo e do racismo, o fim da competição insana e da meritocracia. Ou seja, o ideal de uma sociedade mais justa.

Como podem ver, temos uma agenda recheada para a Páscoa, uma espécie de cesta de chocolates especiais, embora meio amargos. Sei que ainda preferem os chocolates doces, mas com a idade vamos aprendendo a gostar dos amargos também.

Com a idade descobri que tudo o que hoje nos parece utopia e distante da realidade vai se tornando possível aos poucos. Por exemplo, a democracia vem aumentando (não existia há duzentos e cinquenta anos em lugar nenhum), a escravidão não é mais tolerada (oficialmente terminou há pouco mais de cem anos, embora ainda persista entre nós o racismo estrutural), o sexismo vem diminuindo (as mulheres não votavam e eram proibidas de fazer muitas coisas em países considerados democráticos, embora o machismo estrutural ainda domine grande parte das sociedades atuais), o colonialismo era a regra internacional (a maioria da humanidade achava justo um país colonizar outro), o nacionalismo extremado e a guerra eram virtudes (a maioria das pessoas considerava a guerra uma forma de purificar a sociedade) e outras. As ideias de extrema direita foram sendo combatidas e, com a derrota dos nazistas e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, começamos uma nova utopia: sermos todos, sem exceção, humanamente respeitados.

Hoje ficamos estarrecidos quando sabemos que 3 em cada 10 brasileiros simpatizam com o bolsonarismo, mas lembrem-se de que eram 7 em cada 10 que apoiavam a ditadura militar há 50 anos e foram 9 em cada 10 pessoas na Alemanha que apoiaram os nazistas, há cerca de 100 anos. Não estamos melhorando?

Não é uma espécie de chocolate amargo?

Aproveitem a Páscoa e a sua juventude.





 

 


Comentários

  1. Que beleza, Lor! Me emocionou demais.
    Francisco e Daniel são seus netos?
    Grande abraço e boa Páscoa para vocês todos.
    Ana Figueiredo

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  2. Querida amiga Ana
    Francisco é meu neto.
    Daniel é um jovem amigo.
    Obrigado pelo carinho
    LOR

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