Tomaz
Soube hoje pela manhã que nosso querido Tomaz Aroldo da Mota Santos acabara de falecer, no desfecho de uma luta que ele vinha travando com uma doença grave há alguns meses.
Tomaz é uma pessoa importante na vida de muitas, incontáveis pessoas. É desses seres humanos especiais que vão espalhando atenção, compreensão, solidariedade, bom humor, esperança e otimismo por onde passam.
E otimismo foi a última mensagem que recebi dele, há algumas semanas, quando pedi sua ajuda para a pesquisa que o antropólogo Thiago Heliodoro Nascimento está fazendo sobre o impacto das ações afirmativas contra o racismo nos cursos de medicina. Tomaz respondeu carinhosamente que voltaríamos a conversar em breve, mas naquele momento estava bastante cansado em função dos exames e procedimentos médicos que vinha realizando para o tratamento de sua doença. Apesar dos sinais preocupantes enviados pela equipe médica, ele disse estar otimista.
E otimismo foi o que Tomaz me ensinou numa longa viagem de ônibus que fizemos a Montes Claros, durante a campanha eleitoral para a reitoria da UFMG no ano 2000, quando ele me convenceu a disputar a vice-reitoria numa chapa com o professor Leo Heller. Durante várias horas tive o privilégio de ser convencido por ele de suas ideias sobre as justificativas históricas, éticas e científicas sobre as políticas afirmativas, as chamadas cotas, que deveriam reparar as injustiças sociais causadas à população negra desde a escravidão. A partir daquela noite iluminada pelas ideias de Tomaz e pelo luar do sertão do Norte de Minas, tornei-me seu discípulo na política universitária.
De otimismo também foram suas palavras quando, apesar de mais votados entre alunos e funcionários, perdemos a eleição no voto dos professores, cujo peso é maior na contagem final. Decepcionado, exausto, acabei caindo em prantos quando encerramos a campanha, mas Tomaz me abraçou e disse para seguirmos em frente, que fora uma bela campanha, que devíamos pensar em quantos jovens haviam escutado nossas ideias. E as ideias não morrem, Tomaz completou.
Às vésperas da tempestade que nos assola, Tomaz estava otimista antes da eleição que levou um psicopata ao governo do Brasil, quando manifestava a esperança de que a esquerda poderia resistir e evitar a catástrofe que se anunciava. Não foi possível vencer a máquina de mentiras e ódio, mas hoje, mais do que nunca, precisamos do olhar otimista do Tomaz sobre o mundo: o de que não há outra alternativa, senão a esperança de que possamos, unidos, vencer o fascismo.
Entre os milhares de covas que estão se abrindo neste momento para enterrarmos tantas brasileiras e brasileiros vítimas de uma pandemia originada nas entranhas do modo de produção capitalista, que Tomaz tanto criticava, uma será reservada para ele.
Lá estará seu corpo, Tomaz, que tanto abraçamos em vida, pois você gostava de abraçar e beijar as pessoas, porque as pessoas gostam de abraços e beijos, um dos seus muitos ensinamentos repassados com seu sorriso típico com os olhos apertados.
Mesmo impossibilitado de um último abraço e beijo, mesmo nesse momento de tristeza pela sua partida e pelo momento terrível que vivemos, mesmo chorando hoje como chorei naquele dia em que tudo parecia perdido, prometo conservar em minha mente o seu otimismo, Tomaz.
As suas ideias não morrem, Tomaz.
Abraçamos, à distância, sua querida Yara e sua família amorosa.
Lor, Thalma e família.
Também estou muito triste. Tomaz nos faz lembrar de quando éramos felizes e sabíamos, de quando havia esperança e dignidade na educação brasileira. Vai fazer falta como pessoa e como educador.
ResponderExcluirQue beleza, Lor. Está falando por tantos de nós...
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