A morte tem ideologia?
Demétrio Magnoli postou na Folha de São Paulo uma crítica às pessoas que não cumprem o isolamento social, chamando-as de anti-sociais. Um leitor vestiu a carapuça, respondeu e sua carta também foi publicada, alegando que somente “os bacanas” podem fazer isolamento social, porque têm salários, Netflix e outros privilégios ( VER AQUI ARTIGO COMPLETO).
Acho que os argumentos do leitor devem ser levados à sério. Ele se diz um comerciante de classe média (que chama seus empregados de “auxiliares”, que tem filho na faculdade e que não está disposto a levar sua família para a pobreza). Mas sua lógica talvez seja realmente válida para aqueles mais pobres ainda do que ele.
Seu principal argumento foi: sem apoio dos governos os “não essenciais” sofrerão economicamente e por isso NÃO PODEM fazer o isolamento.
Sabendo disso, Bolsonaro joga nas duas pontas para estimular a raiva contra “o sistema” e sair de bacana (ele sim): de um lado insufla a todos para retomarem as atividades (falando diretamente para esta camada que entende a necessidade do isolamento, mas não o pode cumprir) e do outro lado não socorre financeiramente os governadores (até este momento) e libera apenas 100 dólares de auxílio emergencial (contra 3 mil do Trump).
Bolsonaro aposta no clima de campanha eleitoral, polarização e provocações permanentes (pois ele não sabe fazer outra coisa, especialmente assumir o combate à epidemia) para desviar o assunto sobre os crimes de sua familícia e as denúncias de Sergio Moro, entrega do governo ao Centrão, desastre diplomático com a China, etc, etc, etc.
Assim, estamos radicalmente divididos em classes econômicaa e opiniões sobre o isolamento social. Em bacanas e pobres de ambos os lados. Por isso imaginei o desenho acima.
Morreremos muitos, mas muito mais mortos serão os mais pobres, especialmente os também politicamente pobres?
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