O Rio que sangra e amanhece
Carlos Starling Dizem que o Rio acorda sempre bonito. No entanto, às vezes o amanhecer vem com gosto de ferrugem na garganta e o sol parece hesitar, como se também tivesse medo de entrar pelos becos onde a vida custa caro demais. Naquela terça-feira de outubro, a cidade despertou não com pássaros, mas com estampidos — uma sinfonia áspera e descompassada que atravessava as janelas e parava o coração das mães antes mesmo do café manhã. Mais uma “operação policial”. Nome técnico, quase limpo, que cabe bem em manchete. Um eufemismo de guerra. Na prática, foi uma rajada curta e grossa na carne da cidade e do país. Cento e vinte e uma vidas, disseram os jornais ao fim do dia — mas os jornais apenas somam, não sentem. O número, redondo e terrível, já supera o do Carandiru, e o espanto se repete: outra vez a morte fez expediente em horário comercial, com conferência de imprensa à tarde e os corpos ainda quentes largados para trás. A Fiocruz — guardiã discreta da saúde e da...

efeito cascata.
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