História da moléstia atual



Para Nilson e Aroeira, companheiros





Para quem chega desanimando, vou dizendo, veja meu caso: sobrevivi a um câncer de intestino, outro de testículo, uma ameaça de infarto e uma depressão, para ficar nos problemas mais graves. E tudo começou com as crises de paranoia nas quais eu achava que estava sendo perseguido pelos militares, neuras gravíssimas e que só melhoraram quando acabou a ditadura. Depois entrei em depressão alternada com a síndrome do pânico, sofrimentos que me impediam de curtir a vida enquanto o Brasil despertava para a democracia e comemorava uma nova constituição. Aí vieram as dores nas articulações que indicavam uma terrível doença degenerativa que encurtaria tanto a minha vida, se não fosse tratada a tempo, que eu não veria o final do governo Collor. Depois veio o zumbido constante no ouvido, já no governo FHC, e que era um claro sinal de que havia um tumor no meu cérebro, especificamente no nervo auditivo, que precisaria ser removido cirúrgica e imediatamente. Quando Lula foi eleito, sofri a primeira ameaça de infarto, diagnosticada no eletrocardiograma de esforço, mas que se recusava a aparecer na cintilografia miocárdica, o que significava, segundo as estatísticas, que eu teria apenas uns dois anos a mais de vida, o que me levou a escrever meu parco testamento em segredo e a me despedir solitariamente da família e dos amigos. Os dois cânceres foram na época da Dilma, quando vivi o desespero de esperar pelos sinais e sintomas das metástases na coluna vertebral e no cérebro. Agora, em plena era Temer, posso dizer que superei tudo e aprendi a viver com uma única doença, esta sim, incurável, a que os médicos chamam de hipocondria.

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