Contra a prostituição, em apoio às prostitutas!
Porque o comportamento sexual humano não é trivial, portanto não pode ser uma profissão qualquer.
Continuo contra a prostituição, mas em defesa das pessoas que são submetidas à ela.
Por causa de minha linha de pesquisa em fisiologia da termorregulação na UFMG, precisei estudar um pouco a evolução humana e andei colecionando ideias sobre o papel fundamental do sexo em nossa espécie a partir de algumas leituras (especialmente Jared Diamond – “The third chimpanzee”, 1992; Robert M Sapolsky –“Memórias de um primata”, 2001; Desmond Morris – “The naked woman”, 2004; Charles Parternak – “What makes us human?” e Matt Ridley – “O que nos faz humanos – genes, natureza e experiência”, 2003).
De forma muito resumida, penso que evoluímos a partir de primatas sociais, tornando-nos bípedes num ambiente de florestas secas, onde as oportunidades ecológicas selecionaram também a grande capacidade física e o aumento do cérebro.
A postura bípede e o maior tamanho do cérebro coevoluíram com a necessidade de as fêmeas parirem bebês ainda relativamente imaturos, cujo cérebro somente completa seu desenvolvimento depois do parto. Estes bebês demandam grande cuidado parental que só pode ser alcançado quando machos e fêmeas permanecem unidos por algum tempo cuidando da mesma criança.
Para manter machos e fêmeas unidos, o comportamento sexual sofreu grandes modificações: tornou-se possível em qualquer época (antes, durante e depois da gestação) e passou a deixar marcas afetivas profundas em seus participantes.
Durante a maior parte da nossa existência como espécie, vivemos como caçadores coletores, sem propriedade privada dos meios de produção e sem classes sociais economicamente distintas (não confundir com status social). Naquele ambiente as ligações afetivas decorrentes da atividade sexual constituíam o elo fundamental do parentesco, sistema de organização social existente universalmente antes das civilizações (ver Darcy Ribeiro, no livro “O Povo Brasileiro” sobre o sistema de “cunhadismo” entre os índios brasileiros).
As mudanças sociais decorrentes da domesticação de animais e plantas que deram origem às civilizações e ao modo de vida atual não parecem ter causado ainda grandes modificações no funcionamento cerebral (ver o livro do Ramon Cosenza – “Porque não somos racionais”), e assim, a importância afetiva e social do sexo entre os humanos continua marcante em nosso desenvolvimento cultural.
Por isso, enquanto formos esta espécie, salvo futuras mudanças da engenharia genética em nossas características, o sexo jamais será trivial, ou seja, jamais será desprovido de significados afetivos profundos entre as pessoas envolvidas, sejam eles de ligação (amor) ou de ruptura (violências de poder, abuso econômico, estupro).
Se o comportamento sexual não pode ser transformado em algo trivial (não confundir com o prazer cotidiano nas relações duradouras), não pode ser transformado numa relação comercial desprovida de sentimentos.
Além disso, aquelas pessoas que dizem que a prostituição “sempre existiu” estão apenas “naturalizando” o abuso econômico existente nas sociedades de classe e fazendo vista grossa à miséria da prostituição.
É isso, por hoje.
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