Carta do Nilson sobre os 50 anos do Humordaz

Esta carta foi enviada pelo Nilson, depois que ele leu o post anterior sobre os 50 anos do Humordaz.

 

- 50 anos? Putz...você está ficando velho...


Mas que bom vocês escreverem sobre o Humordaz!

Acho que o texto ficou muito bom... faltou o seguinte:

Vi que vocês usaram o desenho do Marcos Benjamim para ilustrar o aniversário do nosso Humordaz e não a capa tradicional. Me junto a vocês nessa reparação... na época eu fui a favor do Benjamim na capa do número 2... não sei o que aconteceu, e usaram o desenho lá dentro, mas esse troço sempre me incomodou dele não ter ido para a capa.

Quero responder a pergunta que todos fazem: quem criou o nome Humordaz foi você.

Aquilo que começou como uma tira vertical na página final de sábado do jornal O Estado de Minas acabou ocupando a página toda, mudando de lugar, inclusive, a coluna semanal do Roberto Drummond  para outra página.

Vocês leram a tese da Professora Normélia Miranda sobre o Humordaz? (ver aqui a tese) Ela ainda pegou o Afo vivo. É uma análise muito interessante sobre o papel do Humordaz na cultura mineira da época.

Discordo que o Almanaque do Humordaz não vendia... vendíamos em BH mais do que o próprio Pasquim...no lançamento no Teatro Marília nós demos mais de 400 autógrafos e não conseguimos atender todo mundo que queria...

Lembro que éramos filhos do Pasquim e colaborávamos com o próprio Pasquim e com outros filhos do Pasquim que ajudamos a criar, como a revista UAI os jornais De Fato, Em Tempo, Jornal dos Bairros...

Faltou citar o os novos artistas que nós lançamos, o Hernandez (precocemente falecido) e o Levy Carneiro, assim como abrimos para novos cartunistas como Melado e Aroeira. Inclusive, criamos para o leitor o concurso Cartunistas de Amanhã, em que apareceram muitos desenhistas.

Quanto ao capítulo das intimidações que recebemos, houve os telefonemas estranhos e no meio de dezenas de cartas amistosas dos leitores vinham cartas ameaçadoras. E fomos chamados para dar explicações na Polícia Federal e o Procópio quem foi lá.

E a cereja do bolo: o censor fantasma, que nos censurava na oficina do próprio jornal, adulterando nosso trabalho e provocando charges que saíam publicadas com balões vazios, sem texto. Diante disso, respondemos criando um concurso pedindo que os leitores preenchessem os balões que porventura saíssem vazios e enviassem para nós... E premiávamos os melhores com originais do artista que escolhessem.

Sim, a distribuição era um problema que afetava todas as revistas alternativas (fora da grande imprensa), inclusive o Pasquim e a revista literária mineira Inéditos. Conseguimos distribuir o Almanaque do Humordaz para Rio e São Paulo, mas descobrimos que as empresas levavam os exemplares mas não os colocavam nas bancas.

Também faltou dizer que o curso que demos na Biblioteca Pública era gratuito, graças à artista plástica Marina Nazareth (amiga da Thalma) e resultou na publicação de um livrinho chamado Cualé a do Batman (capa acima) com textos nossos dissecando a ideologia dos quadrinhos. O livrinho se esgotou e hoje é quase impossível achar um, mesmo em sebos. Nesse curso chamamos para falar o Nani, o Eliphas Andreato, o Guidacci, o Vasques, o Henfil e o Paulo Caruso (que perdeu o avião). O Henfil veio com a Bruna Lombardi, musa da televisão na época, lembram?

Mas o que acabou mesmo com o Almanaque do Humordaz não foram os encargos financeiros e o problema da distribuição...foi a exigência de fazer o mesmo que o Pasquim e a Revista Inéditos: submeter todo o nosso trabalho à Censura Prévia em Brasília!!! E nem podíamos dizer ao leitor que estávamos sob censura! Assim, o produto que chegava aos leitores era fraco e não podíamos explicar o porquê... além da Ditadura, havia uma guerra do Vietnã no caminho e outras ditaduras em quase todos os países vizinhos e era muito difícil driblar a Censura para falar sobre tudo isso. Então, decidimos coletivamente parar.  

Já a página do Estado de Minas parou porque depois de um ano e meio de sucesso não recebemos um tostão e subimos nas tamancas com o diretor geral Ciro Siqueira...lembra?

Acho que uma das melhores coisas do Humordaz, além do sucesso da resposta do leitor e de sermos chamado para debates em vários lugares, eram as decisões democráticas, tomadas de forma coletiva.

Sou meio detalhista e não sei se tudo isso interessa... você e a comadre decidem.

Abraço com mais de 50 anos,

Nilson

PS: A revista Inéditos era feita pelo Wladimir Luz e também parou por causa da Censura.


Compadre Nilson, achamos que todas estas questões que mencionou são partes inseparáveis da nossa história. 

Thalma e Lor


 

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