Humordaz: 50 anos de resistência cultural
Em 1995, reunimos as ideias principais daquele movimento no texto abaixo que serviu de base para o Curso de Especialização em Literatura Infantil da PUC, coordenado pela Professora Antonieta Cunha e em outros cursos pelo Brasil (ver Anexo 1).
A partir da experiência do Humordaz, algumas críticas ideológicas foram desenvolvidas pelo Grupo Mineiro de Desenho e elas ainda parecem atuais e aplicáveis a outros campos culturais, como ao cinema, à animação, à televisão, à literatura (especialmente juvenil), às novelas e à internet de um modo geral.
O Humordaz voltou a circular em edição eletrônica há 10 anos, com novos participantes e novos momentos de criação coletiva, mas fomos temporariamente vencidos por Elon Musk e seus batalhões de bots.
Este texto, além de ser um breve resgate histórico da nossa guerra cultural possível, é também uma palavra de saudade sobre nossos queridos Afo, Procópio, Dirceu e Nani, que já nos deixaram.
Thalma e Lor
Outubro de 2025
Introdução
Em 1974, Lor aceitou o convite do jornalista Geraldo Magalhães para
colaborar regularmente no jornal O Estado de Minas, onde criou e passou a dividir com o médico e humorista José Ronaldo
Procópio uma coluna de textos de humor e cartuns denominada “Ria se doer”, numa referência ao humor
cáustico que ambos praticavam. Naquela coluna semanal, que mantiveram por um
ano, foram ampliando o espaço e, no ano seguinte, convidaram outros cartunistas
como Nilson, Afo, Mário Vale, Marcos Benjamim, Clacchi e Dirceu para criarem a
página semanal “Humordaz”, que teve um inesperado sucesso na
sua publicação regular aos sábados.
Na elaboração semanal do Humordaz, havia uma convivência extremamente
produtiva, aprendíamos uns com os outros e, principalmente, apoiávamo-nos
mutuamente naqueles tempos difíceis politicamente. Após alguns meses,
recebíamos mais cartas de leitores do que qualquer outra seção do jornal e isto
nos incentivou a lançar uma publicação independente de O Estado de Minas, que batizamos de Almanaque do Humordaz, e que foi lançada festivamente em
1976.”
As duas únicas edições do Almanaque
que conseguimos publicar exigiram estrutura jurídica própria, encargos sociais,
despesas e outras dificuldades que conseguimos superar com relativa galhardia.
No entanto, venderam pouco, pois não conhecíamos a importância da distribuição nas
bancas e, finalmente, sucumbimos diante da censura prévia
realizada em Brasília. Quando tivemos que enviar nossos trabalhos para a Polícia Federal, o jornal O Estado de Minas, conservador e profundamente relacionado com o poder vigente, passou
também a interferir na nossa página semanal, obrigando-nos a um trabalho
triplicado e tenso, pois conseguíamos publicar apenas 1 em cada 3 trabalhos. No final de 1976, a página também morreria sufocada por
censura interna e falta de remuneração por parte do jornal.
A partir da experiência vivida no Humordaz, Nilson, Lor e Thalma passaram a discutir com outros desenhistas, entre eles o Aroeira, as causas do nosso fracasso comercial, o que deu origem a uma consciência crítica das questões relacionadas à produção e consumo de bens culturais. Estava criado o Grupo Mineiro de Desenho, onde descobrimos que a nossa tentativa de produzir uma revista de humor com material nacional não era a primeira a fracassar no Brasil e que havia razões maiores para o subdesenvolvimento crônico da cultura local.
Naquela época, preocupava-nos principalmente a situação das histórias em quadrinhos, consideradas à época um importante meio de comunicação de massa, que veiculava quase que exclusivamente material importado, com eficiente estratégia de distribuição. Sabia-se que mais de três milhões de crianças e adultos brasileiros liam pelo menos uma revista em quadrinhos por mês. Os quadrinhos e seus personagens são utilizados até hoje como recurso didático desde o pré-escolar até a universidade. Alguns jornais brasileiros publicam “tiras” de quadrinhos para seus leitores. Os personagens são transformados em heróis na televisão e vice-versa e são usados para vender os mais diferentes produtos.
Os livros de literatura ou técnicos, mesmo aqueles considerados de
sucesso, não conseguiam alcançar a tiragem de uma revista em quadrinhos
comercial. Diante disso, seria de se esperar que os quadrinhos fossem mais
estudados e mais bem compreendidos pela sua importância como o terceiro
instrumento de comunicação, depois do rádio e da televisão (antes da internet).
Na realidade, o material teórico produzido sobre o papel cultural dos
quadrinhos ainda era escasso, como foi salientado por Humberto Eco.
Passamos a indagar o porquê de tão poucas publicações brasileiras num
mercado aparentemente tão amplo. Verificamos que a dominação econômica dos
quadrinhos estrangeiros, exercida através de preços baixos decorrentes da
produção em larga escala, além de arrasar qualquer iniciativa regional e
resultar em cartéis de subsidiárias de multinacionais, trazia consigo a
dominação ideológica correspondente.
Em paralelo às nossas discussões, travamos contato com outros
trabalhos anteriores e contemporâneos que ampliaram nossa visão sobre os meios
de comunicação de massa (ver referências abaixo). No entanto, nossa concepção era um tanto mais perversa,
uma vez que a maioria dos autores dizia que a colonização cultural se
processava intencionalmente de fora para dentro, enquanto nós admitíamos que os colonizados assumiam para si as
ideias do colonizador.
Como resultado deste processo de conscientização, construímos uma rede nacional de discussões com cartunistas e quadrinhistas de outros estados (como Laerte, Nani, Henfil, Bione, Paulo Santos e outros), realizando discussões e cursos abertos (ver Anexo 1). Além disso, alguns de nós participaram de 1978 a 1981 dos Cadernos do Centro de Estudos do Trabalho, destinados a levar conhecimento político aos trabalhadores e moradores das periferias por meio dos quadrinhos.
Nossas principais ideias foram condensadas num texto amplamente divulgado na
época e que vem sendo discutido ao longo destes anos que apresentamos a seguir.
Os dez mandamentos da comunicação de massa
Apesar de nos referirmos especificamente aos quadrinhos, esta análise é
aplicável a diversos produtos culturais de massa, como ao cinema, à animação,
à televisão, à literatura (especialmente juvenil), às novelas e à internet de
um modo geral.
No entanto, os quadrinhos de humor costumam ter uma perspectiva mais crítica da
sociedade e podem não se ajustar às características típicas dos quadrinhos de
heróis.
A aventura
As histórias em quadrinhos que atingem muitos leitores (ideologicamente
dominantes) acontecem frequentemente em ambientes imaginários — no futuro, no
passado, no velho oeste, na selva ou em qualquer outro lugar que permita ao
leitor transportar-se do seu próprio cotidiano para o terreno da fantasia, onde
poderá sentir-se livre das amarras racionais que tolhem a expressão dos seus
valores mais profundos.
Ao receber a senha para se transportar a outro mundo fantástico, onde
tudo é possível, o leitor pode aceitar com facilidade o universo de valores
propostos nos enredos das histórias em quadrinhos, sem perceber que este novo
espaço idealizado reproduz simbolicamente a sua própria realidade.
Assim, é comum que nestes ambientes fantásticos o trabalho humano
acumulado jamais seja apresentado como a verdadeira origem da riqueza e,
consequentemente, do poder. Ao penetrar em Patópolis, por exemplo, é possível o
leitor aceitar a acumulação de riqueza do Tio Patinhas como uma coisa natural,
resultado de seu faro pelo ouro (dom natural) ou da mágica da moeda número 1,
ou da sua sorte, ou das forças da natureza, ou até mesmo de uma herança do clã
dos MacPatos.
Quase nunca será mostrada em Patópolis a verdadeira origem da fortuna,
que é o trabalho humano (o humano aqui elipsado na forma de patos) expropriado
e concentrado nos cofres do Tio Patinhas ou qualquer outro personagem “rico”
desta ou de outras histórias em quadrinhos.
Os personagens que não pertencem à mesma classe social do Tio Patinhas
são desocupados ou trabalhadores do setor de prestação de serviços;
apresentados ao leitor, são mostrados como estúpidos (Pato Donald, Peninha),
marginais (Metralhas), preguiçosos (Zé Carioca).
Este recurso das histórias em quadrinhos — o escapismo — permite que a
trama se desenvolva a partir de algum tipo de conflito entre os personagens,
geralmente inspirado nos conflitos reais (aumento de salário do Donald ou
atentado contra a propriedade do Tio Patinhas, por exemplo) e é conduzido a um
desfecho onde a ordem natural das coisas é retomada (Donald continua mal pago e
os Metralhas são presos).
O reforço ideológico se reproduz incessantemente numa história atrás da
outra, mostrando que até mesmo no mundo animal (patos) as coisas funcionam como
na sociedade capitalista: há ricos e pobres, e isto é muito natural.
O império da Lei
Os quadrinhos têm como principal tema os diferentes crimes contra a
propriedade privada — seja um ladrão comum (de índole malvada, por natureza),
seja um ladrão sofisticado (com recursos tecnológicos ao seu dispor), ou uma
tribo revoltada contra a presença do Tio Patinhas em seu território. Sempre
será demonstrado no transcorrer da história que existe uma Lei natural, que
garante a propriedade privada e que deve ser cumprida a qualquer preço.
Ao apresentar a propriedade privada no passado, no futuro, em Patópolis
ou em Gotham City com as mesmas características e valores da sociedade
contemporânea, as histórias em quadrinhos ocultam a evolução histórica dos meios
de produção, apresentando a propriedade privada como um direito natural e desde
sempre existente.
O universo ideológico dos quadrinhos nega sistematicamente a origem
histórica (portanto, humana e não divina ou natural) das leis, que são
construídas como resultado das lutas entre diferentes forças sociais pelo
controle dos meios de produção, e que as leis assim construídas geralmente
representam os interesses das classes dominantes.
A luta entre o bem e o mal
Os quadrinhos desenvolvem seus enredos em cima dos conflitos entre
personagens naturalmente bons ou naturalmente maus. Este maniqueísmo reforça a
negação dos processos históricos na definição dos comportamentos humanos e
atende à concepção juvenil de que a vida é regida por impulsos internos
incontroláveis e permanentes.
Assim, os Irmãos Metralhas são filhos, netos, bisnetos e por aí adiante
de assaltantes, assim como seus sobrinhos, primos, etc., também foram, são e
serão para sempre marginais. Por outro lado, os mocinhos e heróis, mesmo quando
utilizam os mesmos recursos dos bandidos (força, assassinato, mentira, truques, roubos etc.), são considerados indivíduos bons, assim como seus pais, avós etc.
Nas histórias, o que diferencia os bons dos maus é que a índole boa está
indissociavelmente ligada à defesa da propriedade privada, enquanto os maus
agem no sentido contrário, perturbando a ordem da distribuição de riqueza
existente.
O racismo
Os quadrinhos apresentam os personagens bons (heróis) como pertencentes
à raça branca, ocidentais e civilizados. As demais raças e povos são mostrados
como improdutivos, ignorantes, atrasados, primitivos e supersticiosos. O herói
quase sempre tutela e protege alguma comunidade racialmente “inferior”,
justificando assim a presença civilizadora dos brancos em suas colônias.
Tio Patinhas possui minas e propriedades em todo o mundo, onde nativos
fiéis e agradecidos somente se rebelam contra a extração gratuita de suas
riquezas quando personagens maus os insuflam, subvertendo momentaneamente a
ordem. Ao final, os agentes subversivos terminam por receber o castigo, inclusive das mãos
dos próprios nativos.
O culto do herói e da força
Nos quadrinhos, a qualidade fundamental que acaba por resolver os
conflitos é a força do herói — de preferência a força física - sua superioridade moral inata, recebida como dádiva divina, às vezes representada pela tecnologia dos povos desenvolvidos com suas armas
sofisticadas.
Portanto, mesmo que exista outro personagem tão forte quanto o herói
branco ocidental, o branco deverá vencer no final, mesmo que destrua tudo ao redor, pois ele possui outra
qualidade associada à sua força: estar ao lado da ordem estabelecida, em defesa
da propriedade privada.
O culto ao herói atende ao desejo narcísico de valorizar as diferenças
individuais entre os seres humanos, demonstrando a superioridade das ações
individuais e negando a participação coletiva no processo histórico. Sob este
aspecto, os quadrinhos não se diferenciam muito da história oficial ensinada
nas escolas, onde, por exemplo, foi um indivíduo chamado Napoleão que decidiu
invadir a Rússia, e não um conjunto de fatores sociais, econômicos e culturais
que determinaram o conflito entre russos e franceses.
O machismo
Nos quadrinhos, as relações entre os personagens estão estabelecidas de
forma de um domínio vertical, onde qualidades inatas dos heróis justificam esta
ordem como natural. As qualidades inatas que permitem o poder do herói sobre os
demais geralmente são a força física do branco ocidental, sua inteligência
superior sobre a mulher ou sobre as demais raças, ou a sua capacidade de
suportar a dor e as dificuldades — ou seja, de ser durão, militarizado, insensível à dor e à empatia.
O universo ideológico destas histórias apresenta como natural o domínio
do homem sobre a mulher, do branco sobre os demais, e a sexualidade acompanhada
de afeto é considerada uma fraqueza feminina. Já a sexualidade acompanhada de
violência é um atributo de povos primitivos, especialmente aqueles que vivem a
condição de imigrantes nos países do primeiro mundo.
Cabe ao herói, acima de tudo, a negação da sua própria mortalidade (e,
por extensão, do leitor identificado com ele), através do controle perfeito dos
próprios sentimentos e sexualidade e ser, portanto, o cabeça do casal, da família e da sociedade.
A competição permanente
Uma das características mais comuns dos quadrinhos, especialmente os heroicos,
consiste na demonstração de que o ser humano de qualquer época é naturalmente
competitivo e não cooperativo.
Os personagens mais ricos e poderosos estão neste posto pela sua
inteligência ou esperteza, porque tem boas ideias ou sabem aproveitar
uma oportunidade que os demais (pobres, colonizados, mulheres e não brancos) deixam passar.
Desta forma, através da competição, a natureza teria selecionado os mais
capazes que, por isto, teriam se tornado mais ricos e poderosos. Está implícito neste
discurso que haveria igualdade de oportunidades para todos, ocultando dos olhos
do leitor os processos históricos de dominação, colonização e violência na
acumulação da riqueza.
Esta concepção competitiva do ser humano nega que tem sido justamente a
capacidade cooperativa do ser humano — e seu poder de se organizar em
comunidades e sociedades — que possibilitou o desenvolvimento das inúmeras civilizações
diferentes que já habitaram nosso planeta.
A defesa implícita do mito da livre iniciativa procura ocultar que o
objetivo verdadeiro do processo capitalista de acumulação de riquezas é atávica
e compulsoriamente uma luta para conseguir o cofre do Tio Patinhas, ou seja, o
monopólio.
A negação da história
Nos quadrinhos, os episódios geralmente não se relacionam entre si e
raramente os personagens mudam de comportamento de um capítulo para outro. Isto
indica que qualquer acontecimento, por mais importante que ele seja (e
invariavelmente os fatos que merecem um relato no contexto de uma aventura são,
no mínimo, relevantes), não modifica a história do personagem ou de sua
comunidade: não há progresso, não há evolução, as coisas são assim e pronto,
nada muda.
Esta ocultação do processo histórico — esquecer o processo violento
de acumulação de capital e esquecer que as contradições de cada momento
histórico pedem novas soluções, nova ordem social — talvez seja o componente
ideológico mais constante e mais disfarçado nas histórias em quadrinhos.
Além dos valores dominantes embutidos no conteúdo das histórias, a
própria forma do relato induz à negação do processo histórico: os Metralhas
decidem roubar o Tio Patinhas (rompem a ordem) e executam a ação; um herói (a
natureza, a inteligência dos sobrinhos, o acaso, a sorte etc.) frustra a ação;
os Metralhas são presos (restaura-se a ordem). Novo capítulo: os Metralhas
novamente decidem roubar o Tio Patinhas...
O parcelamento do mundo
Os quadrinhos até admitem que há contradições e insatisfações no mundo,
mas atribuem estas dificuldades a grupos naturalmente separados entre si
(jovens versus velhos, cidade versus campo, meninos versus meninas, cães versus
gatos, gatos versus ratos etc.).
Este artifício oculta as diferentes interações entre velhos e jovens ou
homens e mulheres numa mesma realidade social, onde as suas diferentes
características sexuais ou etárias são utilizadas pela classe dominante para
manter as desigualdades e garantir a exploração de sua força de trabalho.
A deformação do conhecimento humano
O conhecimento humano — Arte, Ciência e Tecnologia — é apresentado nas
histórias em quadrinhos de maneira inútil ou deformada, ou seja, como coisas
exóticas ou perigosas (respectivamente) se não estiverem a serviço da ordem
dominante.
Quaisquer percepções artísticas do mundo, descobertas científicas ou
recursos tecnológicos que não sejam destinados a aumentar a produtividade e a
acumulação de capital são ridicularizados ou tratados como ameaça ao sistema.
Os cientistas são invariavelmente mostrados como loucos (quando querem conhecer a natureza ou a história
de forma desvinculada do sistema produtivo) ou como bandidos (que querem dominar o
mundo com sua inteligência ameaçadora). Este receio do conhecimento racional —
que poderia revelar a violência e a injustiça do sistema — desloca as soluções
das histórias em quadrinhos para a mágica.
Assim, o Professor Pardal é um trapalhão ridículo quando tenta inventar
um purificador de ar para Patópolis (ou combate a crise climática), mas um
tecnocrata competente quando se trata de construir um foguete para o Tio
Patinhas explorar ouro em Marte. E o Professor Pardal convive perfeitamente com
os poderes mágicos da Maga Patalógica ou da Madame Mim.
Finalmente, nos quadrinhos da indústria de comunicação de massa, os artistas são retratados como indivíduos meio idiotas que vivem no mundo da fantasia. É difícil acreditar que os próprios artistas se retratem com uma visão tão depreciativa.
Anexo 1
Os cursos de humor e quadrinhos
O conjunto de reflexões realizadas nestas discussões forneceu a base
teórica para um curso no Festival de Inverno da UFMG de 1977. Nos anos seguintes, o conteúdo daquele primeiro curso foi sendo
ampliado, transformado em textos, entrevistas e ministrado por nós em diversas
instituições culturais e Thalma desenvolveu
no nosso curso uma pesquisa individual sobre o papel da mulher nas histórias em
quadrinhos.
O curso foi
apresentado:
•
Em 1978, no I Festival de Inverno
da Universidade Católica de Pernambuco;
•
Em 1978, na Coordenadoria de
Cultura do Estado de Minas Gerais e Centro Cultural da Editora Vega;
•
Em 1980, na Fundação Cultural de
Curitiba;
•
Em 1981, no Curso de Extensão em
Quadrinhos e Desenho de Humor do Departamento de Comunicação Social da
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG;
•
Em 1984, no Curso de Extensão
promovido pela Escola de Belas Artes da UFMG;
•
Em 1986, no XVIII Festival de
Inverno da UFMG;
•
Em 1987, no Curso de
Especialização em Metodologia do Ensino Superior da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais;
•
Em 1988, no X Festival de Inverno
da UFMG;
•
Em 1994, no Curso de
Especialização em Literatura Infanto-Juvenil da PUC-MG e no XXV Festival de
Inverno da UFMG.
Estes cursos foram frequentados por cerca de 250 alunos, entre eles alguns que se
tornaram chargistas profissionais da grande imprensa, como Aroeira (O Globo, RJ), Chico Marinho (Diário da Tarde, MG), Filó (Diário de Minas), Clériston e Humberto (Diário de Pernambuco).
Com a finalidade de conhecer melhor a situação do quadrinho como
instrumento didático, realizamos em 1985
uma pesquisa na Rede
Municipal de Ensino de Belo Horizonte, apoiados pela Secretaria de Educação, que trouxe alguns resultados
interessantes.
Parênteses
É uma satisfação saber pelo professor Admir Soares de Almeida Jr, da UFMG, que hoje, 2025, o tema dos quadrinhos na educação já recebe a atenção de dezenas de educadores, muitos dos quais se reúnem na publicação Quadrinhos & Educação, já no volume 9, organizada por Amaro X. Braga Jr. e Thiago Modenesi, pela Editora Quadriculando, de Jaboatão da Serra, São Paulo.
Voltando à pesquisa de 1985
A pesquisa constou de um questionário que foi enviado a 520 professores, distribuídos em 12 escolas
sorteadas entre as 45 pertencentes ao município, perguntando se usavam
quadrinhos como instrumento de educação e, em caso afirmativo, as revistas ou
outra fonte de quadrinhos utilizadas e a justificativa para este procedimento.
A taxa de devolução dos questionários foi de 15%, o que já se constituia numa
informação sobre o grau de interesse do corpo docente pelo assunto.
Contrastando com os professores, numa outra pesquisa realizada por alunos de
Comunicação da UFMG, com a nossa colaboração, encontramos que 96% das crianças de Belo
Horizonte liam quadrinhos regularmente, inclusive aquelas mais pobres.
Entre os professores que responderam ao questionário, 41% afirmaram usar os quadrinhos
como instrumento de educação. À primeira vista, este percentual parece ser grande, mas é necessário
verificar o porquê e como estes profissionais estão utilizando os quadrinhos.
O motivo mais frequente (23%)
seria para “aumentar a criatividade dos alunos”, embora não seja citada
qualquer fonte de comprovação deste efeito dos quadrinhos, e o conceito de
criatividade pode ser demasiadamente amplo. Com a mesma falta de embasamento
teórico, os entrevistados alegaram que os quadrinhos “desenvolvem a
comunicação” (15%) e “desenvolvem o raciocínio
lógico” (13%).
Impressiono-nos a frequência com que os professores responderam que não
utilizavam os quadrinhos por completo desconhecimento pessoal (25%) ou técnico (21%) de como eles poderiam ser
utilizados. Outros disseram que “prejudicam o ensino” (17%), não são “assunto sério” (5%) ou são “alienantes” (2%).
As revistas e personagens mais utilizados foram aquelas produzidas pela Walt Disney (18%), pelos Estúdios Maurício de Souza (15%) e, curiosamente, os trabalhos
realizados pelos próprios alunos (16%).
O mais curioso é que somente um profissional utilizava os quadrinhos
como literatura, ou seja, pelo seu conteúdo; os demais exploravam apenas a
forma, as onomatopeias e o recurso temporal dos quadrinhos.
Em 1994, lecionando estas questões para
um grupo de professoras de diferentes regiões do Brasil, durante um curso de
especialização em Literatura Infanto-Juvenil, encontramos resultados bastante
semelhantes àqueles obtidos em 1985, sugerindo que a problemática da
compreensão dos quadrinhos na formação cultural continuava necessitando de
estudos aprofundados.
Entre 1985 e 1994 novas informações foram reunidas sobre estes temas,
como as teses produzidas sob a orientação de Sonia Bibe Luyten, da Escola de Comunicação e Artes, e os encontros de quadrinho
promovidos pelo cartunista JAL (SP),
além dos textos de Álvaro de Moya, Dirceu
Rabelo Campos
e outros, ampliando o enfoque ideológico das histórias em quadrinhos.
Mas muito ainda há por se fazer num trabalho fascinante que não pode
deixar de fora os contos de fadas e outros veículos destinados ao público
infanto-juvenil.
II. Parte Teórica
1 Conceitos de cartum, charge,
caricatura, quadrinhos, humor e comicidade.
2 Dados históricos sobre o desenho
de humor e os quadrinhos.
3 Análise crítica de cartuns.
4 Análise crítica de quadrinhos — usando como referência o texto
“Os dez mandamentos
dos quadrinhos dominantes”, avaliar o conteúdo das seguintes histórias:
a) Tio
Patinhas Especial – O segredo do castelo (Walt Disney)
b) Fantasma – O governador e os
piratas
c) Um contrato com Deus – Will Eisner
d) Tintin
no Tibete
– Hergé
e) Charlie Brown e sua patota – Schulz
f) Mafalda
(7)
– Quino
g) Ken Parker – O julgamento de Deus – Berardi e Marraffa
h) Chico
Bento – Chico e o lobo – Maurício de Souza
i) A guerra do reino divino – Jô Oliveira
j) Los
Agachados – El Darwinismo – Rius
k) Revista Mad – O escritor
esotérico do ano
l) O Homem é bom? – Moebius
m) Ranxerox
em New York
– Tamburini/Liberatore
n) Akira (5) – Katsuhiro Otomo
o) Mudanças
– Vampirela
Referências
MARNY, J. (1970). Sociologia das Histórias em Quadrinhos. Livraria Civilização Editora,
Porto, Portugal.
MATTELART, A. (1975). As multinacionais da cultura. Trad. José Monserrat Filho. Editora Civilização Brasileira, Rio de
Janeiro.
DORFMAN, A. e MATTELART, A. (1978). Para ler o Pato Donald – Comunicação de massa e colonialismo. Trad. Álvaro de Moya. Ed. Paz e
Terra, 2ª ed., Rio de Janeiro.
HERNÁNDEZ, P. J. (1978). Para leer a Mafalda. Editorial Precursora, Buenos Aires, Argentina.
DORFMAN, A. e JOFRE, M. (1978). Super-homem dos seus Amigos
LOR. Os dez mandamentos alienados. Revista Rádice, 4(14):9-10, 1980.
RODRIGUES, L. O. C. (LOR). (1979). A classe média nos quadrinhos. Jornal De
Fato,
15:12-13, Belo Horizonte.
“Qual
é a do Batman?”
– Lor e Nilson Azevedo. Publicado pela Coordenadoria de Cultura do Estado de
Minas Gerais, 1978 (edição esgotada).
BETTELHEIM, B. (1980). A Psicanálise dos Contos de Fadas. 1ª ed. Trad. Marlene Caetano.
MOYA, A. (1993). História da História em Quadrinhos. 2ª ed. Editora Brasiliense, São Paulo.
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