Pesadelo
Agitando bandeiras nacionais e ódios seculares.
Seus urros e atos covardes espalharam medo pelas paredes,
Que pareciam frágeis demais para abafar as batidas do meu coração.
Para não morrer novamente, Marielle estava na sala e implorava por ajuda
com uma criança no colo, tentamos fugir pela janela lateral,
mas não conseguimos destravar a ferrugem da escravidão.
Também não podíamos ir pelos fundos, pois o fogo iniciado pelos homens se espalhara,
consumindo a mata cerrada que resistira atlântica no quintal de minha infância,
deixando vultos carbonizados de pessoas, aldeias e câmeras fotográficas.
Procuramos ajuda pela internet, o celular estava descarregado.
Gritamos por socorro, mas nossa voz não era ouvida pelos moradores de rua
que formavam uma fila para votar num caixa eletrônico.
Descobri que minha vida se esgotara, minhas mãos se tornaram idosas, meus joelhos fracos.
Eu não poderia ajudar Marielle com a criança, e nem a mim mesmo.
Eu estava pandemicamente doente, faltavam-me o ar, a esperança e o tempo.
Depois, parei de pensar e consegui dormir.
Excelente reflexão!!! Texto muito verdadeiro e bem escrito!
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