Todo militar é bolsonarista?

Muita gente está discutindo se os militares apoiam a insanidade do governo Bolsonaro. Imagino que possa haver militares sensíveis à tragédia que está em curso no Brasil e, para detectar estes casos, veja abaixo um teste que avalia com quais temas uma determinada pessoa (um militar, por exemplo) concordaria.

1) Autoritarismo – acha que sempre houve e há de haver um que manda e outro que obedece, senão vira bagunça? Que é preciso um chefe para as coisas funcionarem, porque a tal de democracia é uma bobagem esquerdista, que é ineficiente, enfraquece as nações e leva à corrupção? Que hierarquia funciona melhor, principalmente quando você tem que enfrentar um inimigo de verdade, um vírus, por exemplo, em que o chefe capitão manda o general perder a guerra, enquanto ele mesmo vai dar mais umas voltas de morto-cicleta?

2) Nacionalismo – acredita que somos uma nação especial, formada por pessoas especiais, com laços históricos selecionados (por exemplo, brancos, descendentes de portugueses e italianos ou alemães), com uma história de glórias do passado (por exemplo, a vitória, seguida de genocídio, na quinta expedição da república de militares brasileiros na Guerra de Canudos)? Venera símbolos verde-amarelo, hinos e bandeiras nacionais, como se fossem parte de uma grande torcida de futebol? Acha que é nacionalista, mas xenófobos são os argentinos?

3) Comportamento tribal – pensa que quem não seu amigo, é seu inimigo? Acha fundamental as alianças baseadas na lealdade e fidelidade? Prefere entregar a Amazônia ou o Pré-Sal para empresas estrangeiras capitalistas para evitar que estes tesouros sejam “globalizados”? Acha necessário que alguns milhares de militares ocupem postos chave na administração do governo para evitar a globalização? É capaz de bater continência para a bandeira americana?

4) Postura antiglobalização – acha que a globalização da economia e dos costumes acabaria com nossos empregos, com nossa autonomia, com nossa honra e valores nacionais? Acredita numa conspiração internacional entre banqueiros, judeus e comunistas para controlarem o mundo, degenerando os países do ocidente por meio da guerra cultural? Tem medo que os brasileiros sejam todos obrigados a ir ao teatro, ler livros, ser feministas, politicamente corretos e não comer carne da Friboi?

5) Anticomunismo – usa a linguagem da propaganda e do pensamento Ustra-moderno da Guerra Fria? Acha que os comunistas querem dominar o mundo porque são perversos? Pensa que os comunistas querem que as crianças recebam educação sexual nas escolas para fazerem sexo livre e destruir a família? Acha válido uma pastora e deputada chamada Flor de alguma coisa defender o movimento Escola em Casa, para combater os comunistas que comem criancinhas? Grita nas manifestações que a bandeira da Coca-Cola jamais será vermelha?

6) Ideias conspiratórias – acha que o vírus da COVID-19 foi FABBRICADO pela China COMUNISTA para arrasar a economia dos outros países e se tornar a MAIOR POTÊNCIA do mundo? Desconfia que a VACHINA coloca chips nas pessoas fazendo os brasileiros patriotas saltarem da borda oeste da terra plana em direção ao vácuo?

7) Racismo – considera que reservar terras para indígenas e quilombolas é um absurdo, pois estas pessoas deveriam abrir mão de suas culturas atrasadas e se tornarem verdadeiros brasileiros? Elogia as ações das polícias militares contra negros e índios, porque eles são preguiçosos, tudo bandido, incapazes inclusive de se reproduzirem de tão pesados se tornaram (em arrobas) depois que receberam a tal bolsa família dos governos petistas?

8) Machismo – acha que o mundo é lugar de homem e as mulheres devem ir cuidar das crianças, da cozinha e ir para o culto e a cama, caladas? Prova por A+B que salários iguais para mulheres é uma injustiça, porque os homens trabalham mais, são mais fortes, não engravidam e nem passam um ano amamentando?

9) Homofobia – sente horror diante da possibilidade de sexo com o mesmo sexo e arrepia só de pensar em olhar para o peito nu do jovem recruta? Enrola a língua para falar homossexual, então prefere falar veado, bicha e boiola?

10) Cristianismo – acredita em deus acima de tudo e pátria acima de todos? Pensa que culto afro, dança indígena é religião primitiva, até mesmo coisa do demônio? Que a família é sagrada e por isso homossexualismo é degeneração? Que aborto é crime contra a vida, mas pena de morte é merecida?

11) Culto à força – é chegado numa academia temperada com anabolizantes e suplementos energéticos? Adora acampar, desafios rústicos, jet-ski, alpinismo, luta marcial? No íntimo acha que a maior aventura de todas, no entanto, é se olhar longamente num espelho de corpo inteiro?

12) Culto à morte – segue a filosofia de que é preciso destruir para reconstruir? Que precisaria morrer uns 30 mil para melhorar o Brasil? Que meio milhão de mortes pela COVID não foi tão mal, porque ficaremos livres dos maricas, dos mulherzinhas que não enfrentaram como homens essa doença aí?

13) Fascínio pela violência – fica excitado só de pensar numa sessão de tortura? Imagina com gozo um grupo de homens armados violentando uma jovem mulher guerrilheira comunista, sob o comando de um coronel (que irá depois escrever o livro de cabeceira do presidente da República)? Acha normal o então deputado Bolsonaro homenagear o tal coronel (“Ustra, o terror da Dilma!”) ao votar publicamente no golpe contra Dilma?

14) Covardia – costuma ser valente em grupo, quando está em maioria, ou quando sabe que sua tropa está em vantagem sobre os adversários? Mas sozinho parece ser incapaz de dizer o que pensa, numa CPI da COVID, por exemplo? Acha correto bater em crianças para educar?

15) Liberdade – acha que um HOMEM RICO tem o direito de fazer o que quiser com seu dinheiro? Que não precisa usar máscara nem tomar vacina? Que pode comprar livremente o sexo, a floresta, o político, o servidor público, o fiscal do Ibama e a reeleição?

Uma amiga aplicou este questionário em alguns militares e concluiu que há três tipos deles:

1) Bolsonaristas hereditários (os filhos e netos dos militares das épocas da ditadura e da escravidão);

2) Bolsonaristas congênitos (que sofreram falta de oxigênio cerebral ainda no útero);

3) E aqueles que se tornaram bolsonaristas na vida infantil (depois de educativamente espancados pelos pais).

Os dois que não pontuaram no teste foram para a reserva em 1984.