ALEGREZA
Ando precisando de motivos para alegria no meio de tanta tristeza, e ontem chorei pelas quinhentas mil mortes causadas pela pandemia e pelas manifestações de rua, e foram lágrimas misturadas que molharam meu coração ressecado pelo distanciamento social, já por demasiado prolongado em saudades.
É difícil dimensionar quinhentas mil famílias atingidas pela morte de uma pessoa querida, porque os grandes números são frios, amortecem nossa empatia, diluem o sofrimento humano e banalizam o horror. Então vi numa das fotos alguém portando um cartaz: Meu irmão morreu sem vacina! E o protesto era feito pelo meu amigo Paulo Camargos. Aí, desabei. Senti nele a dor das milhares de vidas perdidas por falta das vacinas. Acompanhei dia a dia o sofrimento do Paulo, enquanto seu irmão lutava num hospital contra o vírus.
E chorei de tristeza, revolta, indignação e medo.
Ao correr do dia, outras imagens foram surgindo nas telas, dando conta da extensão e vitalidade das multidões contra o genocídio causado por Bolsonaro e seus aliados. Devem ter sido 500 mil vidas protestando contra as 500 mil mortes. Foi reconfortante ver a energia transformadora que cada rosto expressava. Havia aquela alegria que surge quando descobrimos que somos muitos, que não estamos sozinhos, que podemos reagir pacificamente, democraticamente.
E chorei novamente, de esperança, revolta, indignação e menos medo.
Há futuro, nas ruas muitas vozes cantaram.
Hoje posso ver melhor, já sem lágrimas, que elas têm razão.
Amigo, esse seu choro, suas lágrimas, vi repetidas nos rostos de milhares de pessoas ontem, nas ruas...inclusive no meu.
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