Não gostei



A capa da revista Piauí que está nas bancas parece-me um desrespeito para com o amor homossexual.

A intenção da caricatura aparenta s
er uma crítica à relação que existe entre Jair Bolsonaro e seu guru que vive nos Estados Unidos, o tal de Olavo de Carvalho.

Concordo que é preocupante para o Brasil que um presidente eleito se deixe influenciar nas suas medidas de governo por um indivíduo que se dizia astrólogo, que não conseguiu completar um curso superior e atualmente se autoproclama filósofo, que escreve, diz e usa grosserias como argumentos, que promove a intriga entre os membros do governo (inclusive militares) de forma irresponsável e que representa culturalmente o comportamento medíocre daqueles que defendem a meritocracia mas perderam a corrida e estão profundamente ressentidos com a “elite” (econômica, intelectual, científica e política).

Uma relação de submissão ideológica de um capitão a um charlatão, embora sejam do mesmo sexo, não se trata de uma relação homossexual.

Colocar Jair e Olavo se beijando com a intenção de crítica é sugerir que a relação homossexual que supostamente haveria entre eles seria algo condenável por ser degenerada, perversidade ou crime. É usar a imagem da relação homossexual para tentar envergonhar o presidente (e seus seguidores) que se proclama heterossexual.

Como o presidente e o guru não se assumem como gays, a capa da revista se torna ao mesmo tempo uma espécie de fakenews e uma ofensa às pessoas homossexuais.

A caricatura resulta, infelizmente, numa tática provocativa e desqualificadora, semelhante àquelas que os bolsonaristas usam para mediocrizar o debate político e incitar a violência social.

Quem deseja mudar o Brasil para melhor, e a revista Piauí tem sido uma fonte de informação cuidadosa e relevante nesse sentido, precisa encontrar outros métodos para agir.

Homofobia, não.


Comentários

  1. Caro Lor, não me parece ser isso, mas sim uma analogia à histórica foto de Erich Hoenecker e Leonid Brejnev, na época da Guerra Fria. Um o líder soviético e o outro o líder da Alemanha Oriental.

    ResponderExcluir
  2. Caro Luciano, obrigado pela lembrança daquela foto. Parece-me uma situação diferente, pois faz parte da cultura russa homens beijarem na boca ao se cumprimentarem, mas não da cultura alemã. Então, aquela foto indicava a submissão do chanceler alemão à política russa. A capa da Piauí acontece num contexto diferente, no qual a homofobia faz parte da ideologia dos governantes.

    ResponderExcluir
  3. Lor, as capas da Piauí parecem ser obras teleguiadas, a autora é uma ilustradora russa q vive nos EUA e recebe um briefing da redação com as fotos e a ideia pronta e não tem a mínima ideia do q se passa em Pindorama. A revista gosta de paródias cujo paradigma ninguém mais lembra ou foram ícones muito restritos ( como agora a paródia da foto dos líderes comunistas, que já está muito difusa nas memórias). Além da questão da ideia q pode ser preconceituosa, tem a questão profissional: com tantos bons profissionais da ilustração no Brasil, a revista vai buscar alguém nos EUA ( e pago em dólar a 4,50!!!!!). ---------Mas a mim parece q a redação autora da ideia, queria mais é atingir o preconceituoso tenente-presidente justamente no seu maior tabu q é a homossexualidade, claro q incorrendo no mesmo risco de a revista parecer homofóbica.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário que será enviado para o LOR.

Mais visitadas

PJ, o duro

Este livro é uma ousadia

A história em quadrinhos sobre a Amazônia