Caro Lor,

Uma curiosidade minha sobre seus haicais: tem alguma razão implícita (talvez uma intenção oculta, que eu não decifrei) para você adotar a grafia hay kay, em vez de uma das formas usuais e aceitas em português - haicai ou haikai?

É que, às vezes, eu fico pensando nessa suposta intenção oculta e isso interfere um pouco na essência do poema, não sei se tem mais alguma coisa além do eu tô vendo ou lendo.

Como são haicais de forma livre - sem o rigor métrico e estrutural dos japoneses - a gente sempre fica procurando um algo mais, algo fora da tradição que nos cause surpresa, que esteja além do poema.

Eu conheci e aprendi a gostar de haicais lendo o Vão Gôgo (Millôr) na velha O Cruzeiro, quando era menino. Ele também fazia haicais e, muitos deles, sem o rigor nipônico. Como esse - quem nem é haicai - mas que eu nunca me esqueci (nem do desenho que ele fez para ilustrá-lo e que era, literalmente, um grande patinho amarelo num vagão de carga de um trem):

"Gostaria, querida, de ser inesperado

Como a madrugada amanhecendo à noite.

E inesperado também,

Como um pato num trem."

Abs.

Aragão


Caro amigo.

Obrigado pelos comentários.

Começo pelo K e Y. Ambos fazem parte de uma proposta minha de 1989 de antropofagia cultural na revista de humor KYX’93. Ou seja, usarmos os K e Y abundantes na cultura anglo saxã misturados a palavras tupiniquins. Não sou japonês, nem gringo do Norte, somos do mundo.

Segundo, sigo a métrica que aprendi:

Três frases, três conceitos independentes, de humor, sempre, sendo 17 sílabas no total. Às vezes sigo a ideia de 5 – 7 – 5 sílabas como a de hoje.

Sim, sou inspirado pelo Millôr, que não seguia métrica nenhuma e no Leminski, que seguia ou não, de acordo com sua veia do fia.
O importante, é que enquanto busco as palavras certas, desvio-me da angústia de viver.

Hei, deu quase um Hay Kay:


Busco palavras certas (7)

Desviando-me (5)

Para não morrer (5)


Abraço


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