Caricaturas vivas
Desconfio que quanto mais um sujeito precisa da admiração
dos outros, no fundo, menos ele dá valor a si mesmo. Aí, o hominho inseguro dentro do
fulano vai em busca de medalhas, de um carrão barulhento e de outros sinais visíveis de status social.
O ditador de Myanmar Min Aung Hlaing, na foto acima,
reproduz ao vivo e em cores a charge que publiquei há 50 anos no jornal Estado
de Minas (tinha que disfarçar o texto em espanhol porque era a ditadura militar,
lembram?).
Esse cara deu um golpe militar em 2021 (o que deve ser
motivo de inveja para os adeptos do condenado a 27 anos e 3 meses de prisão aqui
no Brasil) e vem promovendo o genocídio e expulsão de centenas de milhares de
pessoas do povo Rohingya, assassinatos de opositores, tortura, estupros e
sequestros de adversários e bombardeando civis (inclusive uma escola há dois dias,
onde morreram 19 crianças (ver
aqui).
Esse facínora de Myanmar tem o apoio – pasmem pelo leque
eclético de ditadores! – do americano Trump, do russo Putin, do indiano Narendra
Modi e do chinês Xi Jinping!
O fato de um general de Myanmar, uma cultura asiática, estar
exibido sua farda e condecorações tipicamente ocidentais revela o ridículo e o trágico de
sua imagem, um colonizado de extrema direita que se orgulha de copiar
as atrocidades dos colonizadores. O cartum acima com o texto em espanhol, além de
contornar a censura, continha também a intenção de fazer menção ao papel subserviente dos militares das repúblicas latino-americanas.
Para além do significado bélico, medalhas também nos remetem ao principal argumento ideológico do capitalismo: a meritocracia, a competição em tudo e toda parte, que destrói as ligações de solidariedade, as organizações coletivas e a união para enfrentarmos o mundo em crise.
Myanmar é o retrato do que acontece quando um golpe militar consegue executar seus planos e punhais verde-amarelos. Myanmar também é um retrato sombrio do que pode nos acontecer se a ONU Paralela que está surgindo, a Organização dos Nazifascistas Unidos, continuar prosperando.
Olho as medalhas no peito desses ditadores e imagino o crime que corresponde a cada uma delas.
Por debaixo delas há homúnculos desprezíveis que habitam as entranhas dessas criaturas grotescas geradas pelas sociedades de classes.
Brincando com sufixos, esses facínoras com suas fanfarronices bem merecem a alcunha de medalhários, os sanguinários das medalhas (ha).
ResponderExcluir