Thalma, Picasso e eu
Cinquenta anos depois foi Thalma quem forneceu ao mesmo cartunista a inspiração para uma nova charge sobre Picasso, dessa vez para participar de uma amostra coletiva em Alcalá, na Espanha, na qual 200 cartunistas de 37 países homenageamos o aniversário de meio século da morte do pintor. A exposição, coordenada pelo cartunista e amigo JAL, foi inaugurada há poucos dias e pode ser visitada virtualmente clicando aqui.
Ao dizer à Thalma que eu gostaria de fazer uma paródia de alguma obra do Picasso, questionando sua visão sobre as mulheres, ela indicou-me a pintura “Garota diante do espelho” (abaixo), que parece remeter à vaidade, um atributo supostamente feminino.
Garota diante do espelho - Pablo Picasso, 1932
Horrorizado que estava (e ainda estou) pela tragédia Yanomami - agravada pelo governo Bolsonaro, - tentei reinterpretar a obra mostrando uma jovem indígena diante do macabro espelho civilizatório. O resultado (acima) foi enviado para a tal exposição na Espanha.
Cinquenta anos antes deste cartum revisitando Picasso, minha admiração ingênua por ele ainda não sabia que toda obra de arte é produto do seu tempo, é histórica, é datada. Aprendiz de artista, eu imaginava haver artes que seriam eternas e sua beleza atemporal. Havia sido colonizado para pensar, por exemplo, que a arte grega clássica atravessaria os tempos e seria o verdadeiro referencial universal do belo. É importante lembrar que o próprio Picasso chegou a buscar referências estéticas nas artes dos povos africanos, num indício de que ele desconfiava da supremacia da arte branca europeia.
Nestes cinquenta anos, também fui aprendendo com as feministas que as mulheres têm sido obrigadas a ocupar um determinado espaço na arte: não como autoras, mas nuas ou limpando o chão dos museus, como mostra o cartum pioneiro da Thalma, premiado no Salão de Humor de Goiânia em 1981 (pena que não temos o original a cores).
Cinquenta anos antes deste cartum revisitando Picasso, minha admiração ingênua por ele ainda não sabia que toda obra de arte é produto do seu tempo, é histórica, é datada. Aprendiz de artista, eu imaginava haver artes que seriam eternas e sua beleza atemporal. Havia sido colonizado para pensar, por exemplo, que a arte grega clássica atravessaria os tempos e seria o verdadeiro referencial universal do belo. É importante lembrar que o próprio Picasso chegou a buscar referências estéticas nas artes dos povos africanos, num indício de que ele desconfiava da supremacia da arte branca europeia.
Nestes cinquenta anos, também fui aprendendo com as feministas que as mulheres têm sido obrigadas a ocupar um determinado espaço na arte: não como autoras, mas nuas ou limpando o chão dos museus, como mostra o cartum pioneiro da Thalma, premiado no Salão de Humor de Goiânia em 1981 (pena que não temos o original a cores).
Tantos anos atrás, diante da Thalma que duvidava da minha
autoria na charge publicada em 1973, eu não podia adivinhar que a paleta da
arte de Picasso, com todas suas contradições, forneceria uma das cores que
iriam compor nossa longa história de amor e amizade.
Uma obra inacabada, em andamento.
Eu ainda acho que a arte é Eterna. Não tem época nem tempo. Eu me emociono às lágrimas todas as vezes que vejo a Mona Lisa. E não são poucas as vezes que eu a vejo. Fiz uma foto dela no Louvre há mais de 30 anos e estou sempre admirando a sua candura e delicadeza. Ela realmente me emociona
ResponderExcluirMuito bonito, amigos. Comovente, para vocês e para nós. Tudo um nó, enovelado.
ResponderExcluirQue linda história de amor e arte, Lor.
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