Meu medo do abismo
O sentimento angustiante que perpassa meus gestos cotidianos se acentuou nos últimos dias com a escalada de sucessivas rupturas da malha institucional que nos constitui como sociedade, fazendo-me perder o sono, o sorriso e a saúde, como se eu estivesse diante de uma antiga ameaça que, de repente, se transformou de risco crônico em perigo iminente. Há alguns anos visitei os cânions no nordeste do Rio Grande do Sul, na divisa com Santa Catarina. No primeiro, Itaimbezinho, com centenas de metros de profundidade, há uma cerca com cabos de aço um pouco antes do precipício, o que nos permite ver a paisagem belíssima sem que insegurança nos envolva. No outro, o cânion Fortaleza, não há nenhuma proteção ao longo das margens do abismo, de tal forma que, a poucos metros da borda, meu pavor de uma queda foi tão grande que percorri de gatinhas os centímetros finais, arriscando uma olhadela nas profundezas e retornando a uma distância prudente. Alguns turistas se aproximavam perigosamente e...