a CRIATURA neste domingo


Cada geração possui sua forma de arte, mas há artistas que pertencem a diversas gerações. Um grupo de artistas jovens se reuniu em torno de Mary Shelley e seu eterno Frankenstein para nos envolver nesta trama humana que nos une a todos, apesar do WhatsApp.

Vejam abaixo o convite do Batista, meu querido amigo e cartunista.

“Bom dia amigxs!

Próximo domingo tem Lançamento A Criatura, a nova publicação da A Zica, a primeira como um selo. E ela tem um valor especial para mim, segue a história:

Quando eu tinha uns 19/20 anos passei por uma barra depressiva que envolveu remédios e psiquiatras. Dureza. Na época estava começando a viver minha vida gay - uma coisa que foi assombrosa para mim pois vindo de família cristã e dentro dos moldes, nunca pensei que fosse viado. Em casa eu não tinha exemplos de vivências homossexuais, pelo contrário, não se falava no assunto e quando ele vinha à baila, era para escorraçar.

Nessa época, fragilizado e atemorizado, tendo os miolos fritos por bolinhas ansiolíticas, li Frankenstein numa viagem para Caratinga. E duas coisas aconteceram: o horror do livro me era confortável, pois era algo que eu estava vivendo. Enquanto todo mundo não sabia bem como agir comigo, e vinham me dizer que a vida era bela, eu encontrava um tempinho trevoso nesse livro para processar o que passava comigo.

A outra coisa que aconteceu de forma sutil, pois na época eu não tinha tanta capacidade de articulação, foi a identificação com a Criatura: vivendo uma vida que não pediu, sabendo que não seria aceita, sem pares, sem possibilidade de realização.

Bueno: passei pela barra, abracei a minha vivência homo-afetiva com os dentes, encontrei meus pares, encontrei aceitação em diversos meios, e tenho vivido de forma realizada meus afetos, tesão, humor, família. Diferente da Criatura, eu passei por uma redenção que não o exílio voluntário.

Lançar essa obra junto com a Zica me traz esse gosto. Mary Shelley cometeu uma obra universal onde nós sempre fugimos: no horror. Horror de ser e de não ser. Horror da falta de sentido e do absurdo da existência. Horror de que no meio do horror ainda existem coisas lindas como flores e o disco Last Splash, das Breeders (outra âncora que usei durante esse tempo lixo da minha vida).

Convido todxs para o lançamento e para conhecerem a obra desejada por mim, João Perdigão e Luiz Navarro, e pensada, editada e projetada por Clarice Lacerda, Ana Paula Garcia, Maria Trika e Ing Lee, que recrutaram 29 artistas para darem vida a essa obra que não pediu para existir, mas que desde já encontra seu lugar no mundo e seu poder de transformar.



O lançamento é neste domingo, dia 16, das 14h às 20h, na Casa Juta - Rua Almandina, 56, Santa Tereza

Além do lançamento, haverá uma mostra de trabalhos das artistas que participam da publicação, um papo com as editoras sobre o processo da Criatura, e show com a banda Não Não Eu.

Link para o evento: https://www.facebook.com/events/391092831631248/

Cordialmente,

Batista”

www.memorialbatista.com.br



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