Belchior
Certa manhã acordei velho. Minha pele era feita de cicatrizes e arranhões. O sol não iluminava, apenas se consumia. E meu pequeno jardim fora tomado por insetos pardacentos. A água era insípida, inodora e incolor, porque não havia sede. Os passageiros que subiam pela frente do ônibus eram os mesmos que desembarcavam pela porta dos fundos. O simples movimento de folhear um livro fazia ranger minhas articulações. Minha única esperança era a de não sentir dor para morrer. Eu tinha vinte anos e era latino-americano, mas o psiquiatra deu-me amitriptilina: um remédio para afastar os soldados de minha porta.
Na parede da memória, essa lembrança é o quadro que dói mais.
ResponderExcluirViva Belchior.