A vida é um algoritmo imperativo?



Leio que o Facebook (para quem não conhece é uma grande empresa que explora as redes sociais) criou uma comissão de especialistas para verificarem se uma notícia é falsa ou não. Como os conservadores norte-americanos reclamaram que a comissão descobria mais fakenews nos sites de direita, o Facebook demitiu os especialistas e os substituiu por um algoritmo (sic The Guardian). Isso foi antes da eleição do Trump, o que nos diz um pouco sobre a eficiência do algoritmo para detectar mentiras naquela rede social.

Mas o que vem a ser um algoritmo? Como um dispositivo destes seria capaz de detectar mentiras? Ouso compreender a primeira dúvida; a segunda, deixo para o Juliano Viana e seus colegas do aprendizado de máquinas.

Descubro (nos algoritmos de busca do Google) que algoritmo é um conjunto das regras e procedimentos lógicos que levam à solução de um problema num determinado número de etapas para serem executadas mecânica, eletronicamente ou por um ser humano. Lá também encontro que a palavra não tem uma etimologia bem definida, o que me faz escorregar para a fantasia de que “algo” tem a ver com “algia”, ou seja, “dor” em termos médicos, e concluo que algoritmo poderia ser o ritmo da dor, uma palavra que descreveria perfeitamente o fluxo de sofrimento dos seres humanos submetidos a este experimento sem sentido chamado vida.

E é com este significado que me pergunto se a vida seria um algoritmo imperativo, ou seja, um desenrolar de regras e procedimentos lógicos no qual nada me resta senão seguir o fluxograma de opções, sobre as quais talvez não tenha realmente escolha, como o jovem negro no cartum?

Em outras palavras, tenho livre arbítrio? Ver outro post sobre esta dúvida AQUI.

Se não tenho escolhas e cada passo meu está condicionado pelos acontecimentos anteriores, desligo este computador e vou tomar uma cerveja, cuidar do meu prazer e esperar a morte chegar, reconhecendo que não passo de um desimportante ser humano qualquer, o que pode ser um alívio, afinal de contas. Irresponsabilidade com o futuro seria o resultado, uma vez que ele não está mesmo em minhas mãos.

Mas se posso escolher em alguma medida o meu caminho, então o ato de pensar e decidir assume importância enorme no sentido geral da própria vida e, por extensão, da sociedade da qual faço parte. O futuro passa a fazer parte do presente, sobre o qual assumo algum grau de controle. Isto me tornaria responsável pelos meus atos e inclusive constitui a premissa de todo o nosso sistema jurídico.


Robert Sapolsky nos coloca diante deste dilema em seu fantástico livro “Behave” (ver aqui seu TED muito interessante) e apesar de demonstrar durante quase todas as setecentas páginas que nosso comportamento é resultado de fatores condicionantes múltiplos e complexos, conclui que é possível haver mudanças no algoritmo, mudanças estas que fazem a diferença no caminho da humanidade. 

No entanto, seus exemplos de pessoas que decidiram mudar o seu destino e assim mudaram a história, como Nelson Mandela, são tão excepcionais que fico em dúvida se o cidadão comum e mediano como eu seria capaz de saltar fora do algoritmo da vida e agir de forma descondicionada.

Pela via do pensamento, não consigo descobrir como poderia agir de forma diferente dos meus determinantes históricos (geológicos, evolutivos, 
genéticos, biológicos, econômicos, sociais, culturais,  educacionais) sem ser considerado psiquiatricamente desajustado.

No entanto, no cotidiano, não consigo viver de outra forma que não seja assumindo responsabilidade pelas escolhas, como se eu estivesse realmente no controle da minha vida e tivesse livre arbítrio.

Acho que fui condicionado a pensar que sou livre. 









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