Crítica e construtiva

 


Maria Helena Carneiro Catunda disse-me que os versos de “Um dia antes”, que postei aqui há algumas semanas, não têm rima nem melodia. Pedi-lhe explicações sobre como poderia ter sido feito e ela se dispôs a tentar consertar o que eu escrevera. Caso ela conseguisse, combinamos que eu postaria sua versão. Depois de alguns dias, emocionado, recebi pelo correio uma carta escrita à mão, com sua versão para o poema. Transcrevo abaixo.


“Querido Luiz Oswaldo,

Aí vai o seu Poema. Fiz o que pude. Procurei manter o assunto que você expressou no título. Procurei também dar coerência entre as estrofes. Para estabelecer a harmonia (que é imprescindível na poesia e para a qual as rimas ajudaram), tive que mudar mais palavras do que desejava. No mais, penso que ficou bom. Sempre às ordens.”



Antes um dia



Que teria feito eu

se soubesse antes um dia;

e mais ninguém percebeu,

que você nos deixaria?



Deixado a torneira aberta,

desligado o celular,

faria todo o possível

para seu plano falhar.



Gritaria em desespero,

implorando compaixão,

embora você negasse,

não lhe daria razão.



Em meio a tanto alarido,

o filhote da pantera

teria nascido antes,

ao ronco da motosserra?



Se não funcionasse a máquina,

talvez por algum mistério,

evitaria o desastre

na barragem de minério...



E a pobre mãe japonesa

por certo, nada sabia

que a bomba fatal já vinha

e apenas faltava um dia...



O que fizera a menina

de cabelos africanos,

para os haver destroçado

um policial desumano?



Um cabo mais um soldado

antes sequer um só dia,

fecharam a corte suprema.

Que punição lhes cabia?



Afinal, que ninguém sabe,

se soubesse algo faria,

que na carreira da vida,

somente lhe falte um dia!...


Aí está a versão da Maria Helena, uma poetisa que, aos 98 anos de idade, se dispôs a ajudar este seu sobrinho metido a escrever poemas. 
Temos uma longa amizade de mais de meio século e sou grato pelo seu carinho e atenção. Depois de anos sem escrever poemas, ela retomou seus papeis e lápis para me ajudar. 
Pelo que ela me disse, esta aventura literária está sendo divertida e amorosa para ambos.

Quem quiser conhecer alguns poemas da minha querida tia Maria Helena, dê uma lida neste seu “Migrantes”: ver aqui como adquirir um exemplar.


PS: Curiosamente, o poema que publiquei teve como origem minha inquietação diante dos preparativos bolsonaristas para do dia 7 de setembro: o que faríamos um dia antes, se soubéssemos o que aconteceria? 

O poema da tia Maria Helena chegou ontem, um dia antes do sete de setembro.

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