Centro de Belo Horizonte, rua São Paulo, 900, dez e trinta da manhã de uma segunda feira, uma pessoa para de pé sobre a grade metálica no solo da calçada, possivelmente um exaustor de ar de compartimentos subterrâneos, construído ao lado de uma árvore e de uma lixeira. Aquela pessoa está de costas para mim, sua idade é incerta, talvez uns vinte anos, e carrega uma mochila de plástico. Seu gênero é ambíguo dada a extrema magreza, suas roupas esgarçadas estão imundas, os cabelos emaranhados e cobertos de sujeira, tornando aquela pessoa uma espécie de continuidade excrescente entre a fuligem do chão, o cinzento da rua e o cimento da cidade. Subitamente, a pessoa abaixa as calças e começa a defecar sobre a grade de metal. Assusto-me. Olho ao redor e parece que ninguém está vendo o mesmo que eu: o porteiro continua lendo seu jornal, os pedestres desviam impávidos sua trajetória, os motoristas e passageiros parados no sinal fechado não movem seu olhar para aquela pessoa de cócoras defecand...