Não posso me desesperar
Diante do diagnóstico da doença genética e incurável de uma de nossas filhas, Thalma ouviu da amiga e pediatra Cleonice Mota que precisávamos manter a calma para podermos ajudar nossa menina. Apesar de não sermos culpados pela sua doença, éramos responsáveis pela sua vida. Não adiantaria fugirmos para Manchester ou Toronto, porque isso em nada mudaria a situação. Não havia cura, é verdade, mas havia tratamentos. Hoje vivo um momento semelhante em meu país, assustado diante de uma sociedade injusta, violenta e governada por corruptos, com nossa população agressivamente se dividindo em grupos intolerantes. Vontade de fugir para Minas, mas Minas não há mais, a lama da barragem levou. Vontade de gritar, mas a rouquidão depois dos sessenta deixou minha voz débil e inaudível. Nem mesmo morrer adiantaria: apenas um caixão a mais para ser carregado. Sempre fui da classe média, filha mimada na ditadura militar, que cresceu esbanjando Miami e importados, individualista e cheia de superioridades...