Há momentos em que me esqueço completamente que tenho setenta anos: durante o sexo, andando de bicicleta, desenhando, atendendo uma pessoa como médico, brincando com netos e netas, rindo com minha mulher ou escrevendo, como agora. Boa parte do meu tempo, certamente. Quando, então, o envelhecimento insinua suas sombras e mofos na minha alma? A idade relativamente avançada aparece soberana nos intervalos entre aqueles momentos de profundo envolvimento emocional e psíquico, acima lembrados, e as atividades cotidianas, como me despir para o banho, a nova peça no dentista, aquele momento de doença ou quando retorno a locais onde gastei muita energia vital durante longos anos e dos quais estou hoje desvinculado, como o laboratório de fisiologia do exercício. Nestes momentos, que são poucos, sinto-me como os cacos de um estafermo, o boneco pendurado na ponta da vara do destino a servir de joguete numa vida sem sentido. Os jovens também despertam em mim uma paramétrica do tempo, e imagino...